18 de abril de 2006

A Mãe de uma Nação


Namastê


Paquistão é um país vizinho e até agosto de 1947 não existia, foi criado quando da independência da Índia. Uma parte do território indiano doado para que se formasse então mais uma nação islâmica. O atual presidente do Paquistão é um indiano nascido aqui em Delhi!!!

The New York Times

02/04/2006

A Mãe de uma Nação

Nicholas D. Kristof, do The New York Times


MEERWALA, Paquistão – Não sei se jornalistas sentiram isso quando estavam perto de Gandhi ou Martin Luther King Jr., mas quando estou ao redor de Mukhtar Mai sinto a presença de grandiosidade.

Mukhtar, que também atende pelo nome de Mukhtaran Bibi, é a jovem camponesa – ela não sabe exatamente quantos anos tem – que três anos atrás foi estuprada por uma gangue por ordem de um conselho tribal local. Ao invés de se matar, como era esperado de qualquer mulher com auto-respeito, ela processou os atacantes, usou o dinheiro da indenização para fundar escolas, e começou uma revolução em toda a nação para obter mais direitos às mulheres.

Todo dia, pobres e desesperadas mulheres e garotas com bochechas molhadas de lágrimas chegam nesta remota e empobrecida vila, procurando santuário. Cada noite, até uma dúzia delas dormem no chão do quarto de Mukhtar, ao lado dela. (Ela deu sua cama ao diretor do colégio que ela fundou aqui).

Uma visitante é uma amável garota de 7 anos que se decompões em enormes e desoladores choros enquanto conta como o servidor de uma família rica a estuprou, e como a família rica, então, ameaçou matá-la, e sua família, a menos que ela desistisse da acusação.

Então há Fauzia Bibi, uma mulher de 30 anos que foi estuprada e torturada por oito homens durante dois dias como punição para sua família, porque seu tio supostamente teve um caso com uma mulher do clã dos atacantes. Estes ameaçaram matar toda a família dela a menos que ela desminta.

Inspiradas por Mukhtar, estas mulheres estão com o pé firme. Estão arriscando suas vidas – e, em angústia, daqueles que amam – para processar os atacantes. É uma lição de coragem e civilidade que nunca esquecerei.

“Enquanto estiver viva, irei adiante com o caso”, disse Shabana Mai, a mãe da garota de 7 anos. “É claro, se eles cortarem minha cabeça, não há nada que eu possa fazer”.

Mukhtar arruma assistência legal para estas mulheres, as coloca em contanto com grupos de assistência, e olha para suas outras necessidades. Uma mulher chegou sem nariz; cortar fora o nariz é uma tradicional maneira paquistanesa de punir mulheres. Mukhtar arranjou três operações cirúrgicas e, acima de tudo, o processo dos homens que fizeram isso.

Com sua fé no civilizador poder da educação, Mukhtar também vai porta à porta e persuade pais a mandarem suas filhas para sua escola. “Às vezes eu vou fazer um acordo com os pais – direi a eles, ‘mande duas de suas filhas para minha escola, e eu deixo você manter duas outras em casa’”, explicou ela.

A escola vai até a quarta série, embora ano que vem incluirá também a quinta série. A estrela acadêmica é Sidra Nazar, menina de 9 anos que fica em primeiro lugar na quarta série.

Mas um mês atrás, os pais de Sidra a tiraram da escola. Seu clã estava em disputa com outro, e para resolver a questão ela foi oferecida como noiva para um homem de 20 anos do outro clã. Escandalizada, Mukhtar foi aos pais de Sidra e armou um escândalo.

Sua intromissão enfureceu os pais de Sidra, mas eles largaram os planos de casamento, e Sidra voltou à escola. “Eu quero ser médica”, ela me disse. (O vídeo de Mukhtar, Sidra e sua escola pode ser visto no www.nytimes.com/kristof).

Eu tive a honra de me dirigir à cerimônia de graduação da escola de Mukhtar. (Eu não consegui nenhum diploma honorário, talvez porque Mukhtar pensou que eu fosse ficar ofendido por ser um honorário da quarta série). Mas outro orador, um ativista dos direitos humanos chamado Khalid Aftab Sulehri, disse seu melhor: ele descreveu Mukhtar como “a mãe da nação”.

É isso que eu acho tão inspirador sobre esta mulher. A sua é uma das piores e mais sórdidas histórias que se pode encontrar, e mesmo assim – por intrépida coragem, pela mágica do espírito humano – ela se transformou em uma elevada visão de esperança.

Minhas últimas duas colunas recontaram a história de Aisha Parveen, uma jovem paquistanesa que escapou de um bordel na qual estava aprisionada por seis anos. As cortes estavam ameaçando enviá-la de volta ao dono do bordel, que planejava matá-la.

Nos últimos dias, tudo mudou. A polícia largou todas as acusações contra Perveen, e, ao invés disso, prenderam o dono do bordel sob acusações de seqüestro e tentativa de homicídio. O governo paquistanês está agora atrás de Parveen e dando a ela vigilância policial durante 24 horas, e ela está emocionada – e agradecida pelo apoio de tantos leitores.


Om Shanti

7 comentários:

  1. em todos os lugares as mulheres são tratadas como inferiores, mas porque há alguns lugares do mundo onde isso chega ao extremo?
    como tudo isso me revolta tanto e como admiro figuras tão altruístas que lutam por isso!
    Agradeço a Deus por viver nessa sociedade machista chamada Brasil que é problemática, mas onde sinto ter a minha liberdade ...

    Eu

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  2. " AGRADEÇO A DEUS POR VIVER NESSA SOCIEDADE MACHISTA CHAMADA BRASIL "

    Começo meu comentario ao ler uma mensagem enviada a respeito de Fauzzia Bibi, a qual termina com esta frase.

    Eu tambem agradeço todos os dias, ao sair para o trabalho pela manhã, após minha meditação matinal, saio de moto e sinto o sól enviando calor na frescura da manhã, as brancas nuvens repousando no céu,as pessoas a caminho de seus empregos, mulheres a pé de onibus, de carros, de motos. Lindas arrumadas, livres.

    Passei a observar mais depois de tomar conhecimento deste blog.

    Claro todas temos nossas dificuldades a enfrentar, nossos desafios, e assim é a vida. Mas quando leio algo em que as mulheres reclamam desta realidade ocidental como algo muito pesado, me lembro
    que se as pessoas se informassem mais a respeito da situação das mulheres em grande parte do mundo, perceberia que vivem no paraiso, e não se dão conta.A vida passa e elas continuam reclamando, levantando as cenas mais obscuras da vida para justificar a sua própria passividade frente ao inaceitavel para seres evoluidos.

    Penso que se ao exemplo de Bibi, Ghandi, Luther King, as mulheres tomassem uma atitude positiva e de união e colaboração com as irmãs ao redor do mundo, já poderiam ter mudado muita coisa, já teriam salvo muitas vidas . Vamos apenas supor que as mulheres resolvessem doar cinco por cento do que é gasto em produtos de beleza para agradar aos " homens machistas desta sociedade capitalista ". Imaginam quanto dinheiro isto daria !Quanta ajuda estas pobres pessoas receberiam ?

    Bem, o que coloco aqui não é uma crítica as mulheres que se embelezam, adoro ve-las lindas, cheirosas e charmosas.A questão mesmo é..." Quando tomarão a decisão de fazer algo para mudar esta realidade que trucida com milhares de mulheres e homens neste nosso mundo ? ".Quando procurarão ONGS sérias voltadas ao objetivo de ajudar causas deste tipo, e olhe que são muitas ! Tem muita gente trabalhando em condições precárias para ajudar pessoas, homens, mulheres, e crianças que sofrem em situações com as que relatadas nesta matéria .

    Esta na hora de arregaçar as mangas e fazer algo...apenas ler este blog e falar Uau! como eles são maus, no paquistão, na India, em todo o Oriente médio, Asia etc.! Mãos a Obra Mulheres deste mundo pois detém o poder de transformar este mundo ! USEM-NO !

    Anandakirtan

    OM SHANTI

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  3. Oi Sandra!
    Passei o dia todo pensando em voce, cheguei em casa e corri para ver as novidades do blog. Passei hoje longas horas conversando com uma amiga uruguaia-isralense que esta embarcando para Delhi amanha a noite sem data para voltar. Quer ficar pelo menos seis meses mochilando entre esta terra de paraiso e caos. Me deu uma vontade... Em breve, sou eu que chuto o balde e apareco ai.
    Beijocas!

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  4. por que vc não coloca notícias como esta no http://www.linkk.com.br ?

    acho importante que muita gente leia isto.

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  5. Nas áreas tribais aqui do Paquistão (opa, de lá já que estou no Brasil por um tempo), isso ocorre muito. Dizem que lá é terra de ninguém e nem o exército paquistanês ousa entrar no território. Em Peshawar, quando fico na varanda, ouvimos tiros dados ao alto por tribais. É quando devemos entrar em casa. Vale lembrar que Peshawar é quase na fronteira com o Afeganistão. Muitos são da etnia pathan e, em algumas comunidades, o conservadorismo é tão grande que chega a ser insuportável.

    Para os pathans, a honra feminina é algo de deve ser vigiado e guardado por toda a vida da mulher. Sabendo da pressão, muitos pais chegam a assassinar as filhas pequenas porque sabem que, em qualquer falta de honra (e até boatos podem se tornar verdades), a família será esculachada por gerações.

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  6. Aliás, outra coisa que torna a atmosfera paquistanesa insuportável é o clima constante de paranóia.

    Um dos maiores medos são pessoas influentes na política local que ameaçam mais fracos de blasfemarem. A constituição paquistanesa pune a blasfêmia com pena de morte e uma multa (!). Há N casos de pessoas que morreram injustamente ou estão há anos na prisão sem nenhuma esperança de liberdade simplesmente porque foram acusadas de cometerem blasfêmia. Mesmo sem provas o povo é preso.

    Eu acredito que o Islã deixe o ambiente paquistanês mais solidário. Mas uma quase teocracia deixa o país perigoso. Eu mesmo tenho muitos medos...

    Especialmente quando lembro que áreas tribais estão dentro da própria Peshawar, minha casa fora de casa. Mas um dia eu escrevo mais sobre isso...

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  7. Amei seu blog em vários sentidos. As informações são um tesouro. O nome indi(a)gestão é bem sugestivo, embora tenha sarcasmo, não que não esteja próximo da realidade. A realidade é sempre dramática. Mais do que qualquer filme, mais do que se possa imaginar. O modo como vocês conseguem descrever este mundo tão desconhecido é tão fácil de entender. Queria encontrar um blog assim de cada país do mundo, mas também com um olhar justo de alguém daquelas terras. Nossa ótica algumas vezes fica bem só pra nossos próprios gostos. Parabéns pela criatividade e ousadia. Vou te adicionar aos meu favoritos. Sei, isso não é lá grande coisa, mas amei o conteúdo. Fica com Deus!

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