23 de junho de 2009

Discurso de Lula na India




Namaskar

Para voce que se interessa por politica e economia, segue abaixo um dos discursos do presidente Lula aqui na India, na sua ultima visita a este pais em 2007.

Tenha paciencia e leia isso companheiro.

Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no encontro com lideranças empresariais indianas, co-patrocinado pela Confederação das Indústrias Indianas (CII) e pela Federação das Câmaras de Comércio e Indústria Indianas (FICCI)

Hotel Taj Mahal – Nova Delhi – Índia

Senhor Arun Jaitley, ministro de Indústria e Comércio da Índia,
Senhor Embaixador Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores,
Senhor Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
Senhor Anand Mahindra, presidente da Confederação de Indústrias da Índia,
Senhor Yogendra Modi, presidente da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria Indianas,
Meus caros amigos empresários do Brasil e empresários da Índia,
Meus caros amigos da imprensa,

Eu quero fazer a apresentação de um ministro, que não está na mesa, o nosso ministro do Turismo, que, ontem, assinou um protocolo importante com a Índia, o Walfrido Mares Guia.

Quero apresentar o nosso governador do estado do Mato Grosso do Sul, o companheiro Zeca do PT. Quem quiser investir em turismo não pode deixar de visitar o Estado do Zeca e o Pantanal.

Quero dizer que aqui estão presentes vários setores da economia brasileira, como uma instituição de pesquisa importante, a EMBRAPA, representada pelo Clayton Campanhola, que é o seu presidente; empresários importantes do setor agrícola; do setor agropecuário; do setor da cana-de-açúcar e do álcool; da indústria; do setor petroquímico; da indústria da construção; da indústria de aviação, que é o que temos de mais moderno no nosso país; da indústria farmacêutica. O Brasil está aqui representado com uma boa base empresarial. Está aqui o representante da Vale do Rio Doce, nossa grande empresa brasileira. Temos aqui representantes de empresas especialistas em produção de máquinas para produção de açúcar e álcool. Portanto, a base do começo de bons acordos está representada aqui, da parte do meu país.

Eu quero dizer ao ministro Jaitley que a minha visita à Índia é mais do que um compromisso, de coisas em que eu acreditava antes e que acredito agora.
O Brasil e outros países desenvolvidos, durante muitos e muitos anos, tiveram as suas relações comerciais muito voltadas para uma parte do mundo, sobretudo a União Européia e os Estados Unidos. É claro que nem a Índia, nem o Brasil pretendem diminuir os seus ímpetos na melhoria e no aperfeiçoamento das relações com esses dois blocos mais importantes do planeta. Mas é verdade também que os obstáculos colocados nas relações comerciais por esses dois gigantes do mundo, sejam os Estados Unidos ou a União Européia, nos obrigam não apenas a brigar muito nos fóruns multilaterais para que as dificuldades sejam tiradas da pauta, mas, sobretudo, nos obrigam a ter mais criatividade, a pensar um pouco mais no potencial individual de cada um dos nossos países e, com muita sinceridade, aprofundar o debate para sabermos se já atingimos ou não o potencial máximo de relação e de comércio que possamos fazer.
Eu, particularmente, estou convencido de que não atingimos ainda 10% do que poderemos fazer. Não apenas em termos de relações comerciais, mas também de uma interação entre os nossos empresários, com investimentos de empresários brasileiros na Índia, e de empresários da Índia no Brasil.

Estamos começando uma nova era. Uma era em que países emergentes estão ávidos para se consolidar enquanto economias fortes, uma era em que os países emergentes estão preocupados com seus problemas sociais e uma era em que os países emergentes não querem ser conhecidos apenas porque são bons produtores agrícolas ou exportadores de matéria-prima ou produtos in natura.
Queremos entrar na competição que envolve a ciência e a tecnologia. Temos potencial para isso. E isso só será possível se, ao invés de ficarmos esperando que os interessados nos procurem, nós procurarmos aqueles com quem temos interesses em fazer negócios.

Quero dizer aos empresários brasileiros que os empresários da Índia estão mais ousados que os nossos empresários. Os empresários da Índia já estão montando um escritório no Brasil, para tratar dos seus interesses.

Eu acho, meu caro Robson, que está aqui representando a CNI, que está na hora dos empresários brasileiros começarem a garimpar espaços econômicos para vender os seus produtos em outras partes do mundo. Até porque o mundo ficou muito pequeno, as distâncias se encurtaram, a tecnologia ocupou um espaço, nos últimos 20 anos, que não imaginávamos que pudesse acontecer tão rapidamente.

Em se tratando de comércio, ninguém faz favor para ninguém. Ninguém vai comprar da Índia porque tem 270 milhões de pobres. Ninguém vai comprar do Brasil porque tem 50 milhões de pobres. Ninguém vai comprar do Brasil porque tem criança de rua ou porque o Presidente brasileiro é nordestino. E ninguém vai comprar da Índia por causa da situação econômica da Índia, do Brasil ou de qualquer outro país. As pessoas vão comprar quando estivermos preparados para competir, do ponto de vista tecnológico, quando nossos produtos forem de qualidade e quando tivermos a ousadia de não ficar no nosso território esperando que as coisas aconteçam ou que alguém nos procure. Nós é que temos que ir à luta, procurar os nossos parceiros e fazer os negócios que entendemos que precisam ser feitos.

Eu quero dizer uma coisa aos empresários da Índia. A nossa relação com a Índia vem sendo pensada ha muito tempo. E, obviamente, ela só poderia ser concluída se nós ganhássemos as eleições. Ganhamos as eleições e começamos a implantar uma relação que queremos que, nos próximos anos, seja a mais importante relação entre dois países. Não apenas pela população dos dois países, pela grandeza territorial dos dois países, mas pelas similaridades de potencialidades existentes entre os dois países.

Quando há interesse político e quando há perspectiva econômica, não há distância quilométrica que não possa ser vencida. Se um português, antes de 1500, ousava sair de Portugal e dar a volta ao continente africano, para chegar à Índia, para comprar iguarias, nós, agora, não precisamos dar a volta no continente. Nós, agora, temos outros meios de transporte. Nós, agora, podemos transportar as empresas de um país para o outro. Depende apenas de uma decisão política.

E nós temos a oferecer mais do que o Brasil para negócios com a Índia. Quando tomamos posse, tomamos como primeira decisão recuperar a credibilidade do Mercosul. E, para recuperar a credibilidade do Mercosul, era preciso estreitar as relações políticas, diminuir as divergências entre os países que compunham o Mercosul e contribuir para que as economias dos países do Mercosul pudessem ter credibilidade interna e externa.

Acredito que, hoje, estamos numa situação em que eu poderia dizer para vocês: nunca houve uma relação tão sincera e tão forte entre os países do Mercosul como existe hoje. Não apenas Paraguai, Uruguai, Brasil e Argentina. Queremos que toda a América do Sul faça parte do Mercosul, para que um país como a Índia tenha a possibilidade de negociar com todos os países dentro do Mercosul e que o Mercosul possa negociar com a Índia e com outros países em potencial de desenvolvimento. E conseguimos isso sem inventar nenhum milagre.

É importante dizer aos empresários da Índia que, no Brasil, de vez em quando, aparece alguém e inventa um milagre, como se fosse um plano salvador da pátria. Cada um inventa um plano, dando a impressão de que cada um quer carregar a marca de um plano milagroso que salvou a economia.

A experiência tem demonstrado que as coisas feitas dessa forma não dão certo. A experiência tem demonstrado que não existe mágica em economia. Em economia, tem dois componentes que dão certo. Primeiro, é o fato de as pessoas acreditarem na seriedade do Governo; segundo, é o Governo estabelecer uma relação com a sociedade, não permitindo que surja nenhuma novidade na área econômica, que pegue as pessoas de sobressalto.
Possivelmente sejamos, na História recente do Brasil, o único Governo que está estabilizando a economia sem criar nenhum plano econômico. Estamos apenas fazendo o que precisa ser feito.

Em apenas 12 meses, a nossa economia, que tinha um risco de 2400 pontos, caiu para 400. A inflação, que estava projetada para 40%, se Deus quiser, chegará, no meio do ano, aos 6% que estamos nos propondo a cumprir. E estamos com a certeza de que o país está preparado para retomar o crescimento, já sentido em todos os estudos feitos entre novembro e dezembro.
Há uma retomada do crescimento, há uma queda no desemprego de 12,2% para 9%, no mês de dezembro. E temos definido, dentro do Governo e no Congresso Nacional, o Plano Plurianual, que é a definição das prioridades para os próximos quatro anos. E, também, um projeto de lei que cria a parceria Público-Privada, que vai estabelecer os acordos que queremos fazer com os empresários, o marco regulatório, para que as pessoas tenham a certeza de que não serão enganadas em nenhum momento, na medida em que assinem um contrato com o Governo.

Mas não é apenas isso. Vamos precisar de parcerias muito grandes na área de infra-estrutura, porque o potencial de crescimento da nossa economia exige que façamos grandes investimentos nessa área, sobretudo no setor de transporte, nas estradas, nas ferrovias e no setor de energia. Porque, se não oferecermos energia, não poderemos oferecer parceria para que algum empresário invista no Brasil.

É com essa disposição que estamos fazendo esta visita à Índia. É com essa disposição que convidamos os nossos empresários para virem à Índia, com a certeza de que vocês podem repetir, no século XXI, a mesma função desbravadora que os portugueses tiveram, 500 anos atrás, quando descobriram o Brasil.

O momento que estamos vivendo não é para nenhum empresário ficar dentro do seu país, chorando o que não está acontecendo. Ele tem que fazer acontecer e sair pelo mundo, em busca de negócios. Não dá para ficar parado, nem na Índia nem no Brasil, cobrando do Governo investimentos que as pessoas já sabem, de antemão, que o Governo não tem.

É preciso que a gente seja mais criativo, seja mais ousado e que estabeleçamos entre nós um compromisso de fazermos a coisa acontecer. Por exemplo, nós precisamos – e aí interessa não apenas à indústria, mas também ao turismo – estabelecer um vôo entre Índia e Brasil e África do Sul. Me dizia o ministro que, possivelmente, saindo de São Paulo ou do Rio de Janeiro, indo a Johannesburgo, seriam 8 horas, 8 horas e meia, mais 6 horas até Mumbai. Portanto, em 14 horas, nós poderíamos estar aqui na Índia, para fazer turismo ou negócios. E os indianos estariam também no Brasil, para fazer negócios ou turismo.

Eu quero terminar dizendo aos empresários aqui presentes que, se depender da vontade do meu Governo – nós já demos exemplo em Cancun, demos exemplo quando criamos o Grupo dos 3, entre Brasil, África do Sul e Índia – queremos continuar juntando os países com potencial de desenvolvimento, para que possamos, definitivamente, mudar ou, pelo menos, melhorar a geografia econômica do planeta Terra.

Afinal de contas, estou convencido que, se soubermos trabalhar, este século XXI será o século dos países chamados emergentes. Será o século dos países como Brasil, Índia, África do Sul, China, México, Rússia e tantos outros que, durante tanto tempo, foram tratados como se fossem países de segunda categoria.
Ou acreditamos em nós e mudamos o jeito de fazer política, acreditando na boa-fé dos nossos governantes, na criatividade dos nossos empresários e na vontade política dos nossos povos, ou vamos continuar chorando na Organização Mundial do Comércio o fim de um subsídio, que não virá enquanto estivermos chorando. Mas virá no dia em que eles perceberem que temos novas opções de negócio. Eles virão atrás de nós para oferecer o que estão negando nesses últimos 20 anos.

Longe de mim querer afrontar qualquer parceiro comercial. Eu apenas quero ser tratado em igualdade de condições. Eu apenas quero receber o respeito que dou. E acho que Índia e Brasil não são pouca coisa, não representam pouco no campo econômico, no campo da ciência e da tecnologia. Portanto, vai depender muito de nós. E vai depender muito dos empresários brasileiros e dos empresários da Índia.

Quero que vocês saibam que, da nossa parte e da parte do Governo brasileiro, estaremos ávidos, estaremos trabalhando para que a gente possa consolidar definitivamente essa parceria. Uma parceria econômica, uma parceria política, uma parceria que envolva ciência e tecnologia, mas, sobretudo, uma parceria que estabeleça uma relação de confiança, sem que nenhum país queira ter hegemonia sobre o outro país. Parceria de verdade. Parceria comercial, parceria política, parceria cultural. Acho que poderemos ensinar ao mundo que, durante muitos anos, fomos povos colonizados e sabemos que a colonização pode ter ajudado no início, mas não trouxe os frutos que os nossos povos esperavam. E queremos, do ponto de vista comercial, do ponto de vista político e do ponto de vista econômico, decidir mais livremente quem são os parceiros que podem ajudar as nossas economias a crescer.

Quero desejar a todos vocês toda a sorte do mundo e dizer que vamos ter uma exposição internacional, em novembro, aqui em Delhi, onde vai ter um pavilhão do Brasil. Você pode trazer um avião, Botelho, e colocar aqui. Um pavilhão de 5 mil metros quadrados, para que os empresários brasileiros possam colocar os seus produtos aqui. E acho bom. Eu dizia ao ministro Furlan e ao ministro Celso Amorim que, quando retornar ao Brasil, vou convocar uma reunião da CNI, da Federação das Indústrias de todos os Estados, da Federação do Comércio e vou fazer um desafio, para que vocês aprendam a vender mais do que reclamar.

Muito obrigado.

Fonte: http://www.radiobras.gov.br/integras/04/

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