Hoje eu gostaria muito que você prestasse atenção à historia de vida de Phoolan Devi. Uma mulher indiana que sofreu muito desde criança e que acabou se revoltando contra tudo e principalmente contra os homens, e tornou-se uma das mais famosas bandidas indianas de tempos recentes.
Apesar da pouca idade, Phoolan Devi sempre foi vitima do cruel sistema de castas, e era tratada como servente ou como objeto sexual. Por sempre falar o que pensava dos homens que a oprimiam, ela sofreu muito e foi muito surrada e constantemente estuprada.
Phoolan escreveu um livro autobiográfico entitulado I, Phoolan Devi (Eu, Phoolan Devi).
Fique agora com um resumo da biografia de Phoolan Devi, a Rainha dos Bandidos (The Bandit Queen):
Phoolan Devi nasceu na vila de Gorha Ka Purwa no estado de Uttar Pradesh (UP).
O pai de Phoolan era um agricultor com 4 filhas e 1 unico filho, o que para os indianos eh considerado uma maldição ter tantas filhas. Phoolan era a segunda filha.
Aos 11 anos Phoolan Devi foi forçada a casar com Putti Lal que tinha mais de 30 anos de idade e já tinha uma outra esposa.
Phoolan passou a ser tratada na casa do marido pela outra esposa, pela sogra e pela cunhada, como uma serviçal que tinha que fazer todo o serviço domestico. Phoolan não agüentou a pressão e fugiu da casa do marido, voltando a pé para sua vila que ficava muito longe.
Ao chegar na casa de seus pais após caminhar muitos quilômetros o choque de Phoolan foi ainda maior, pois sua mãe envergonhada com a fuga da filha, mandou que Phoolan se matasse afogando-se no poço.
Na Índia uma esposa nunca abandona o marido, pois este eh reverenciado como um Deus.
Em 1979 Mayadin, o primo rico de Phoolan acusou-a de roubo. A policia a prendeu, bateu muito nela e a estuprou repetidas vezes. Em sua cela de cadeia infestada de ratos e baratas, o ódio de Phoolan pelos homens que denigrem as mulheres cresceu ainda mais.
Em julho do mesmo ano uma gang de bandidos liderada por Babu Gujar foi para a vila de Phoolan e enviou-lhe uma carta, onde ele ameaçava seqüestrai-la ou cortar-lhe fora o nariz, uma punição tradicional para mulheres que saem “fora da linha”.
Desconfia-se que Mayadin, o primo rico de Phoolan que a detestava porque ela dizia tudo o que pensava e não era nem um pouco submissa, pagou para Babu Gujar seqüestrar Phoolan e leva-la para longe de sua vila.
Uma vez seqüestrada e em poder da gang de Babu Gujar, Phoolan foi brutalizada, ofendida, humilhada e estuprada por 72 horas consecutivas.
O comparsa e mão direita de Babu Gujar, Vikram Mallah, não agüentou ver tanto sofrimento e tortura da pequena adolescente e acabou disparando e matando seu próprio líder.
Vikram ficou sendo então o líder da gang, e Phoolan tornou-se sua companheira.
Vikram ensinou tudo a respeito de bandidagem para Phoolan. Ela aprendeu a usar rifle, a matar, seqüestrar e a roubar. A gang de Vikram e Phoolan invadiam vilarejos e roubavam a casa de pessoas de castas mais altas. Eles tambem roubavam trens (comboios) e ônibus de turistas.
Vikram e Phoolan não ficavam com todo o dinheiro que roubavam, eles gostavam de redistribuir o dinheiro com pessoas simples de castas baixas, como forma de corrigir o desnível da estrita divisão social hindu em castas.
Antes e depois de cada ataque, Phoolan ia ao templo mais próximo pedir e/ou agradecer o shakti da deusa Durga.
O ídolo de Vikram em relação a crimes era Sri Ram Singh, um bandido mais velho com quem ele havia passado algum tempo na cadeia.
Como sua sentença era menor do que a de Ram Singh, ao sair da cadeia Vikram coletou 80 mil rupias para pagar a fiança e retirar os irmãos Ram Singh da cadeia.
Os bandidos da gang de Vikram não gostaram nem um pouco quando ele convidou Sri Ram Singh para fazer parte de sua gang, pois Ram Singh era de casta maior que todos da gang. Assim sendo, a gang acabou se dividindo em duas facções, uma que ficou com Virkam e outra preferiu ficar com Ram Singh.
As gangs de bandidos são notórias nos estados de Madhya Pradesh e Uttar Pradesh e existem ate hoje. Eles são cangaceiros em seu estilo de agir, pensar e ate vestir, com exceção do chapéu de couro usado pelos cangaceiros brasileiros.
Phoolan pouco dormia e passava a noite em vigília com seu rifle. Uma noite porem, após um cansativo assalto a uma vila, ela acabou caindo no sono.
Mais tarde, ela acordou muito tonta com o ensurdecedor som de disparos e com Vikram dizendo: “Phoolan foi ele. O Bastardo atirou emmim”.
Phoolan estava totalmente grogue e só depois de muito tempo eh que percebeu que haviam colocado cloroforme não só nela, como também em todo o bando, para evitar retaliações. O bando de Phoolan e Vikram sempre carregava consigo cloroforme para ser usado nos sequestros e acabaram sendo vitimas do próprio cloroforme, que foi aplicado em todos da gang, pelos homens de Ram Singh enquanto eles dormiam.
Os homens de Ram Singh despiram Phoolan, amarram-na e colocaram-na em um barco. Ela perguntou a Ram Singh por que não a mataram, ao que ele respondeu: “Oh, você ainda pode ser de grande serventia” e deu uma piscada para ela.
O barco chegou a uma vila onde Phoolan Devi ainda nua e amarrada foi levada para o centro. Ram Singh disse a todos que ela havia matado o amante Vikram e que deveria ser punida. Ele próprio foi o primeiro a estupra-la em publico. Após terminar, ele a ofereceu a todos da vila que a quisessem. Phoolan escreveu em sua autobiografiaI, Phoolan Devi.: "Eles me passaram de homem em homem.”
Todos batiam, mordiam e estupravam Phoolan sem parar. No dia seguinte, Ram Singh levou-a em outro vilarejo, onde o mesmo ocorreu e assim, de vilarejo em vilarejo, Phoolan ia sendo usada e abusada em publico por todos os homens.
No vigésimo terceiro dia, no vilarejo de Behmai, Sri Ram Singh puxava Phoolan por uma coleira de cachorro para humilha-la, e ele mandou que ela buscasse água para ele no poço; quando ela se recusou, ele começou a bater muito nela e a chuta-la violentamente. Não agüentando mais de dor, ela rastejou ate o poço para pegar água para Ram Singh enquanto os homens do vilarejo a xingavam de prostituta e cuspiam nela.
Naquela noite, um brâmane que não suportava mais vê-la sofrendo, a desamarrou e colocou-a numa carroça e mandou-a para fora do vilarejo deixando-a numa floresta. Phoolan, machucada e desnorteada caminhou ate cair e foi encontrada por uma mulher que cuidou dela.
Phoolan nunca esqueceu toda a dor, sofrimento, inúmeros estupros e humilhação que sofreu e jurou vingar-se dos irmãos Singh.
Um bandido islâmico (muçulmano) chamado Mustakim, ofereceu ajuda a Phoolan, quando soube o que os irmãos Ram Singh haviam feito com ela. Ele ofereceu 10 de seus homens para que ela pudesse começar sua própria gang e ela poderia escolher quem ela quisesse.
Entre os 10 homens que ela escolheu, um era Man Singh; ele era o bandido mais experiente da gang do islâmico Mustakim. Ele tornou-se seu braço direito e mais tarde seu amante.
Foi Man Singh que deu a Phoolan uma bandana vermelha, símbolo da vingança, para amarrar na cabeça.
Quando Phoolan ficava sabendo de algum estupro, aborto forcado ou "suicídio" forcado, Phoolan tomava as dores da mulher e punia os homens responsáveis "Whenever I heard of it, I crushed the serpent they used to torture women. I dismembered them." Como punição, ela os desmembrava cortando-lhes o penis.
Phoolan foi de vila em vila procurando pelos irmãos Ram Singh ate que soube que estavam em Behmai, a vila thakur onde ela foi amarrada numa coleira e tratada como um cão. No entanto ela e seu bando não conseguiram encontrar os irmãos Singh. Com ódio, Phoolan matou 22 homens de casta alta do vilarejo.
Uma mulher de casta baixa, punir e matar homens de casta mais alta foi algo que não desceu pela garganta dos indianos e da policia. Phoolan Devi foi colocada na lista dos bandidos mais procurados.
Mas Phoolan Devi era diferente, ela era uma idealista que tentava corrigir os erros sociais e da divisão em castas e da submissão e humilhação das mulheres pelos homens.
Como a policia indiana nao conseguia captura-la, a policia resolveu prender seu pai e mae e mante-los refens ate que ela se entregasse. Phoolan ficou negociando com a policia sua rendicao por 1 ano e meio.
Com a ajuda de um advogado criminal, ela conseguiu um acordo onde ela se renderia ao governo de Madhya Pradesh e não seria extraditada para o governo de Uttar Pradesh.
Em fevereiro de 1983, Phoolan Devi e sua gang de bandidos se renderam.
Uma multidão de 8 mil pessoas estava a espera de sua rendição. Phoolan saiu de dentro da floresta e ergueu seu rifle acima da cabeça, em seguida fez reverencia a imagem da deusa Durga e de Mohandas K. Gandhi, encerrando com um gesto de Namaskar. As pessoas começaram a gritar mostrando seu apoio a Phoolan. Os pobres e castas baixas adoravam Phoolan, pois ela sempre lhes dava o dinheiro que roubava dos ricos.
Enquanto Phoolan Devi ficou na prisão por 11 anos, um produtor de cinema resolveu fazer um filme baseado em sua vida. Phoolan detestou ser usada mais uma vez e processou o produtor e o diretor do filme Bandit Queen.
Ao ser libertada em fevereiro de 1994, Phoolan anunciou que iria se candidatar a um cargo político. Em maio de 1996 ela venceu a eleicao. Os castas baixas, que sao a maioria, votaram em peso nela, que tambem era uma casta baixa.
No dia 25 de julho de 2001, três assassinos contratados pelo ultimo companheiro de Phoolan, Ummed Singh, dispararam contra ela, a luz do dia, em frente de sua casa em Delhi, quando ela voltava a pé do Parlamento para almoçar.
O que aconteceu com Sri Ram Singh que tanto torturou, bateu, estuprou e humilhou Phoolan???
Lala Singh, seu próprio irmão, o assassinou em uma disputa por uma mulher.
Como toda historia que tem inicio tragico, a historia de vida de Phoolan Devi tambem teve um fim tragico.
Phoolan morreu assassinada e o mandante do crime foi seu proprio marido!
Em 1994 foi feito um filme biografico contando a historia de Phoolan Devi. O filme chama-se Bandit Queen (Rainha da Bandidagem), que naturalmente por mostrar a vida real, nao fez sucesso algum aqui na India.
Primeira parte do filme Bandit Queen, sobre a vida de Phoolan Devi. O filme todo esta no youtube, dividido em capitulos.
Veja:
Colaborou: Marcia Alexandrina
Alem de sua autobiografia I, Phoolan Devi ha tambem um livro escrito pelo indiano Mala Sen e traduzido para o espanhol. O livro em espanhol chama-se La reina de los bandidos : la verdadera historia de Phoolan Devi.
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