1 de março de 2013

Depoimento da Juliana



Queridos leitores do Indiagestão

 Por já ser leitora do site há uns 4 anos, é com grande prazer que venho hoje compartilhar com vocês a realização de um dos grandes sonhos da minha vida: Conhecer a Índia!

 Moro no Japão há 6 anos e havia decidido que antes de voltar definitivamente ao Brasil, eu iria à Índia. Na verdade, eu sou uma apaixonada pela Ásia desde pequena e essa "doença" piorou depois que eu vim ao Japão. Como sempre gostei de estudar idiomas, comecei a estudar hindi no ano passado. Mais por hobby do que por outra coisa, mas, por via das dúvidas, achei melhor saber algumas palavrinhas em hindi antes de pisar lá na Incredible India. Afinal, saber umas palavrinhas na língua local sempre deixam os nativos felizes.

 O trajeto que fiz foi Nagoya - Hong Kong - Delhi. Já no aeroporto de Hong Kong, esperando o meu vôo para a Índia, passei pelo meu primeiro choque-cultural. Um indiano me abordou em hindi e perguntou se poderia usar o meu laptop para mandar um e-mail urgente. Na verdade, foram dois choques. O primeiro, por ser abordada em hindi. E, o segundo por alguém que eu nem conheço me pedir para usar o laptop.

  Mas, lembrei que li aqui no Indiagestão que para os indianos essa noção de privacidade é bem diferente da que nós temos. Então, entrei na dança e emprestei o laptpop. Afinal, ele jurou que seriam só 2 minutinhos. E, realmente foram.

   Chegando lá na Índia, eu fui recebida por uma família indiana. Então, não passei pelo assédio dos motoristas de táxi.

   Fiquei 5 dias em Delhi e conheci todos aqueles pontos turísticos que vocês já sabem. Me senti muito à vontade na cidade e, em momento algum senti um choque por ver mendigos ou crianças pedintes, já que cresci no Rio de Janeiro, onde vivenciava isto praticamente todos os dias. Claro que não é nada agradável ver crianças pedindo dinheiro, mas não é algo que me choque tanto confesso, já que apesar de morar no Japão, eu fui criada é no Brasil.




 Outra coisa engraçada que aconteceu e o oposto do que muita gente conta que passou foi justamente não ter sofrido o efeito E.T. Lá o meu problema foi fazer eles acreditarem que eu não era uma indiana tentando bancar a rica e metida que quer falar inglês!!!

  Num outlet que visitei, não estava achando o banheiro e perguntei em inglês mesmo para a moça onde ficava. Poderia até arriscar em hindi, mas..vai que ela falava algo que eu ainda não entendo? Então, falei em inglês mesmo. Afinal, estava apertada.
 - Excuse me..where is the toilet? - Kya???(What??) - The toilet...
  Então, ela apontou na direção do banheiro, mas bem brava, como se eu estivesse tentando aparecer. Sim, vi vários indianos fazendo isso: falando em inglês só para os outros verem que são cultos e ricos.
 Então, não sei se é melhor já ter cara de E.T ou ser E.T. camuflado. O que vocês acham?

  A minha visão dos indianos
  Visitei 2 famílias indianas enquanto estive lá e posso dizer que nunca fui tão bem recebida e tratada na minha vida. Em uma das casas que eu fui, eles perguntaram o que eu gostava de comer lá na Índia. Eu fui falando: tandorii chicken, malai kofta, etc etc. Quando chegou a hora da janta, eu levei um susto quando vi todos os pratos que eu tinha citado lá, sendo servidos! A senhora havia ido para a cozinha preparar aquilo tudo! Noossa...fiquei até constrangida, mas muito, muito emocionada com  gesto.

  Eu posso dizer que em todos os lugares que fui, fui muito bem tratada e, mesmo depois que sabiam que eu era brasileira, não ouvi nenhuma piadinha ou comentário desagradável, coisa que cansei de ouvir aqui no Japão.

  Eles tem um jeito um pouco rude, sim, é verdade. Os nossos padrões ocidentais de educação não se encaixam muito lá. Mas, no meu caso, posso dizer que tive uma impressão muito positiva do povo.

  Onde eu fui
   Delhi, Agra, Jaipur (básico, né?), Mathura, Shimla e mais duas cidades em Uttar Pradesh: Bijnor e Muzzafarnagar.

   De Delhi eu gostei muito do Chandi Chowk e dos monumentos históricos em geral. São belíssimos. Uma surpresa para mim foi o Qutab Minar, que pensei que fosse meio sem graça, mas quando cheguei lá vi a grandeza do monumento e a riqueza dos detalhes.

   De Agra, só conheci mesmo Taj Mahal, cuja beleza é de deixar qualquer um boquiaberto. Emocionante mesmo.

   Jaipur acho que foi o local que mais gostei. A cultura do Rajastão é belíssima e ali você realmente sente que está na Índia. Imperdível mesmo.

   Mathura (e Vrindavan) foi outro lugar interessante, por causa da quantidade de templos e onde tive a oportunidade de ver como é um culto hindu. Além disso, visitei o templo dos estrangeiros, da Isckon, outro local interessantíssimo.

   Shimla é uma cidade bem bonitinha, mas não encheu muito os meus olhos porque é ocidental demais e eu prefiro coisas mais asiáticas. Mas, vale a pena conhecer e visitar o Kufri Fun World, onde pode-se ver os Himalaias e também a divisa com a China e o monte Badrinath.

   Conclusão
   Aqui no Japão, por causa da educação que eles recebem nas escolas, todos são obrigados a se comportar da mesma forma e a não expressar seus sentimentos. É a famosa robotização em massa, a qual o país faz há décadas. Então, por mais que tenham sentimentos, eles os mantém reprimidos desde bem pequenos. São pessoas boas, sim. Mas falta vida. E, vida é algo que encontrei de sobra na Índia. Lá você vê o pior e o melhor, tudo em um lugar só. Você se sente humano, se sente vivo o tempo todo. E, era algo que eu precisava muito após 6 anos de Japão.

   Acredito que a minha viagem á Índia, foi não só muito desejada, mas muito planejada, também. Li muito antes de ir. Li muito o Indiagestão, guias turísticos, livros, etc. Todas as informações foram extremamente válidas. Já li muitos depoimentos de brasileiros que ficaram horrorizados com a Índia, mesmo em Delhi. Mas, realmente, o que vi lá não foi muito diferente do que vi em 25 anos de Rio de Janeiro. Mas, acho que tudo isso foi fruto de muita preparação. Fui de coração aberto para aprender e conhecer tudo, sem julgar. No meu primeiro ano de Japão, eu tentava comparar os japoneses com os brasileiros o tempo todo e isso não me trouxe nada de bom. Depois que parei com isso, comecei a realmente me sentir parte da sociedade, mesmo não concordando com tudo aqui. Mas, procurei me focar nas coisas boas que eu tenho conquistado aqui. E, para a Índia, fui com o mesmo sentimento: o de aprender e experimentar coisas novas, deixando o julgamento em segundo plano.

   Além disso....quem sou eu para julgar um país cuja história tem milhares de anos, sendo que o meu só tem pouco mais de 500 anos?
   Só posso dizer uma coisa: Depois de ter ido à Índia, parece que todos os outros países que eu gostaria de visitar perderam um pouco a graça. Só para vocês verem o tamanho poder e encanto que só a Incredible India exerce.

  Um grande abraço a todos!!!!


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