3 de julho de 2013

Relato da Janete



Namaste

Fique hoje com o relato da Janete (o nome foi trocado) sobre sua experiencia na India.

Relato:
No final do ano passado, fiquei sabendo que teria que viajar para a Índia, a trabalho. Desde então me tornei leitora assídua do Indiagestão e procurei o máximo de informações possíveis sobre o país. Conversei com alguns amigos para ir preparada ao máximo para o que eu poderia encontrar. A viagem só aconteceu no final de Abril, mas confesso que fui um pouco assustada com as notícias que li.
Fomos um colega de trabalho e eu. Ficamos na cidade de Chennai, ao sul da Índia. É redundante dizer, mas o choque foi inevitável logo no aeroporto. Muito mal cuidado e sujo, e um calor muito intenso! Essa época do ano é a mais quente na região, pelo que falaram. Chegamos a pegar 50 graus de temperatura, realmente um forno! Como não era período de monções, o tempo estava muito quente e abafado, e as roupas que eu havia levado (bem comportadinhas, com manga e muita calça comprida) não estavam ajudando.
Apesar de tudo o que eu li sobre a Índia, achei Chennai um pouquinho atípica. Não sofri o efeito ET tanto quando eu imaginei que fosse sofrer, e as pessoas foram bastante respeitosas até. Chennai está longe de ser turística, porém é berço de muitas empresas multinacionais, ou seja, ocidentais sem aquela postura de “oba-oba” que vão ao Taj Mahal e em outros lugares esperando aquela Índia boazinha e espiritualizada e acabam se ferrando. Acho que essa postura fez com que os locais tivessem um pouquinho mais de respeito. Mas não dê abertura! Porque, se der, eles vão se aproveitar! Mas isso é uma teoria minha, não sei rs.
Bom, saímos do aeroporto e mais choques: primeiro o bafo quente e fedorento do verão indiano (sim, fede, infelizmente. Acho que qualquer canto da índia é realmente muito, mas muito sujo mesmo, e com o calor, o cheiro piora). Do lado de fora do aeroporto, muitas pessoas amontoadas esperando os viajantes com taxi ou serviços. Vieram várias pessoas em cima da gente querendo carregar nossas malas e colocar em qualquer táxi. Um deles puxou a mala da minha mão e eu não consegui impedir. Por sorte o motorista do hotel estava próximo e pegou a mala dele. Mas ele não me deixou sair de perto enquanto não dei uma gorjeta!
O hotel era muito bom, padrão ocidental e serviço muito bom. Não sofremos muito em adaptação lá. Também tinham algumas opções de comida não indiana, o que nos salvou bastante. No começo estava bastante receosa de pegar um taxi comum na rua, então optamos na primeira semana a usar o carro do hotel (caríssimo por sinal). Fizemos alguns amigos da embaixada americana, e eles nos indicaram uma empresa de motoristas, bastante confiável. Acabamos optando por ter um motorista à disposição. Não era tão caro, era confiável, e tínhamos liberdade de sair quando quiséssemos sem medo.

No escritório foi bastante interessante. As pessoas não nos deram muita atenção. Como eu sou nova na empresa, a ideia era fazer um training-on-job. Então designaram um cara da equipe para me passar o que eu devia fazer... e ele brilhantemente não dirigiu a palavra a mim! Ele ia falar com o meu colega, para ele falar para mim o que eu devia fazer rsrs! Na segunda semana ele se soltou e conseguimos trabalhar juntos na medida do possível. Acho que eles nos encaravam um pouco como concorrência, então atenção não era uma coisa que se tinha muito por lá. Era preciso insistir pelo menos 3 vezes para conseguir um documento ou uma informação relevante.

Quanto ao que eu falei acima, sobre dar abertura, foi no escritório que eu descobri que abertura vc dá até sem querer dar. Um dos indianos do time já trabalhou na minha empresa aqui no Brasil, por dois anos. Eu não o conhecia, mas ele conhecia o meu irmão e o meu amigo, que estava comigo. Conversava com ele cordialmente. Um dia, ele simplesmente veio me perguntar porque eu estava indo trabalhar vestida como indiana (detalhe: eu estava de calça jeans e camisa – suuuuuper indiano né). Falei que era o jeito que eu me vestia para trabalhar em qualquer lugar. Ai ele me solta um “É que o pessoal aqui está perguntando, eles estavam esperando uma coisa mais brasileira”. “Como assim?” eu respondi. “Estavam esperando roupas mais sexys”. Respirei fundo e contei até 10 pra não mandar ele pra pqp! Dei uma senhora resposta atravessada e ele nunca mais nem falou comigo direito! Kkkk

Falando agora de turismo, como eu disse, Chennai não tem muitas coisas para se ver. Eu tinha a intenção de visitar o Taj Mahal, Bangalore, mas meu amigo não estava afim de viajar, então não me arrisquei sozinha. Alias, mulher não sai sozinha nem na rua aqui, não recomendo! Então visitamos alguns pontos da cidade e arredores.

Chennai possui muitas igrejas! Lá se localiza a basílica de São Thomas, muito bonita! Nela tem uma cripta que você pode ver uma urna com a réplica do santo com as relíquias em volta, muito bonito! Tem também o Monte St. Thomas, um santuário no alto da montanha, com presépios e passagens da bíblia representadas por estátuas bem grandes.
Também visitamos o forte St. George, um museu onde se encontram utensílios e quadros da época da colonização britânica. Os quadros eram magníficos e em muitos deles retratavam como os indianos eram tratados na época. De dar dó. Dá pra entender o porque do complexo de inferioridade deles.

St. Thomas

Nossos amigos americanos nos deram várias dicas de lugares para comer. Saímos para jantar várias vezes. Sair, realmente, é só para jantar ou tomar um drink em hotéis. Os hotéis, contrastando com o resto da cidade miserável, são luxuosíssimos e enchem os nossos olhos! Lustres enormes, salões feitos de mármore. Realmente lindos! Mas sabemos que não  é feito pra população indiana. No geral os restaurantes indianos são nojentos! Sempre saiba onde vai comer! A diarreia indiana é inevitável (é, não consegui escapar L ), mas a infecção intestinal é! Todo cuidado é pouco! E lembrando sempre, água potável na Índia, somente as engarrafadas e lacradas, porque eles reutilizam as garrafas! Coliformes fecais aqui você encontra até no ar se duvidar! rsrs

Conhecemos Mahabalipuram, há poucos quilômetros de Chennai. É um sítio arqueológico com construções em pedra. Templos e casas esculpidos e moldados em apenas uma grande pedra! Magnifico! Em mahabalipuram, aí sim, sofremos o Efeito ET! As pessoas se amontoavam para tirar fotos com a gente! Algumas delas nem câmeras tinham, mas queriam que tirássemos uma foto com elas na nossa câmera! Muito engraçado!

Conhecemos a costa de Chennai também. É a maior praia em extensão do mundo. Uma pena a sujeira em que se encontra. As pessoas utilizam como latão de lixo e banheiro. Muito comum passas por lá e ver as pessoas de cócoras, defecando! Muito triste mesmo!

Esta e a foto que tirei da praia. Isso ai e a praia!! 

As ruas e o trânsito, como em qualquer lugar na Índia, são caóticos. Sujeira, esgoto, ratos e baratas para todos os lados! E buzinas, muitas buzinas! Eu evitava andar na rua, pois realmente era difícil atravessar rs. E algumas pessoas olhavam para mim de forma muito estranha! Chennai é conhecida como uma das cidades mais seguras da Índia, mas sabendo do que anda acontecendo no resto do país, preferi evitar os olhares maldosos. Não me sentia nem um pouco a vontade. Restaurantes, hotéis, bares e em shoppings é muito fácil encontrar pessoas com roupas ocidentais, regatas, bermudas (incluindo mulheres). Nos bares dos hotéis as indianas iam com vestidos curtinhos a lá periguete no Brasil. Definitivamente era algo que eu não esperava! Mas na rua é impossível andar assim, só use essas roupas na condição de ter um carro a espera.

Infelizmente não pude conhecer mais do lugar. Peguei uma gripe muito forte. E como a comida indiana é realmente apimentada, meu estômago não suportou. Fui parar no hospital com muita dor. Era uma gastrite aguda. Mas preciso dizer, e tirar o chapéu para o atendimento que eu tive no hospital. Foram rápidos, a médica muito atenciosa e fiz todos os exames possíveis e imagináveis. Não acredito que todos os hospitais sejam assim, mas posso garantir que eu tive melhor atendimento que em muito hospital no Brasil!

E devido a esse meu problema, nossa volta que estava prevista para o dia 30 de junho foi adiantada para o dia 20.
Foi uma experiência muito boa, no geral. Sinto muita pena da população pobre indiana. Vi coisas péssimas, mas também coisas muito bonitas. Não conseguiria morar por ai, infelizmente a mulher perde muito sua liberdade num lugar quanto esse. Mas gostei muito de conhecer o lugar, suas belezas, e até os seus problemas. Isso me fez valorizar muito meu país, e inclusive a encontrar as semelhanças entre Brasil e Índia. São dois povos lutadores. É um choque cultural enorme, mas é também uma experiência de vida.


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