Namaskar
Quase 95% da força de trabalho indiana permanece na informalidade. "Queremos dar aposentadoria e benefícios de saúde a esses trabalhadores, mas isso está longe de acontecer", diz representante do governo.
Raymond Thibodeaux
em Nova Déli
Mesmo em meio ao tráfego caótico de Nova Déli, com buzinas tocando e caminhões e ônibus em disparada, o local de trabalho de Omprekash Takur permanece um refúgio de calma e tranqüilidade. O que é bom, pois a especialidade de Takur são os cortes de barba.
Takur passou quase dez anos nesta barbearia, ou o que faz às vezes de barbearia: um pequeno pedaço de calçada com uma cadeira enferrujada, uma mesa de plástico para seu equipamento de barbeiro, dois pares de tesouras, um pente e um espelho quadrado pendurado no tronco de um tamarindeiro, com as folhas escurecidas pela fuligem e a poeira levantada pelo tráfego.
"Meu pai me ensinou a fazer isso quando eu tinha 7 anos e desde então o faço. Meus professores me batiam por faltar às aulas, mas eu gostava de ganhar dinheiro cortando cabelo", disse Takur, 27 anos, magro e moreno, colocando uma nova lâmina no aparelho.
As ruas das cidades indianas estão cheias de pessoas como Takur - barbeiros, limpadores de ouvidos, sapateiros e alfaiates, um pelotão de assistentes pessoais para as massas urbanas do país, em plena rua.
Mas para muitos deles a ascensão econômica da Índia reduziu sua base de clientes, pois cada vez mais indianos são capazes de pagar versões mais caras de seus serviços nos novos shopping centers.
A enorme riqueza que está sendo gerada pela florescente economia da Índia demorou para chegar ao nível da rua, onde a maior parte dos 400 milhões de trabalhadores do país desempenha seus ofícios.
Geralmente, os empresários das ruas têm pouca educação e capacitação, e trabalham em uma economia informal e sombria que fica aquém da maioria das proteções do governo. Conforme a Índia cresce, a distância entre ricos e pobres parece aumentar.
Com um índice de inflação de 6%, a nova Índia parece estar prejudicando os pobres, que são mais duramente atingidos pelos aumentos no preço das necessidades básicas, como comida e aluguel. Isto aumentou os temores de inquietação social neste país de 1,1 bilhão de pessoas, enquanto uma crescente e cada vez mais inquieta subclasse é deixada à própria sorte na boa maré econômica do país.
"São nossos eletricistas, nossos encanadores, nossas empregadas domésticas e motoristas. São a espinha dorsal de nosso sucesso econômico, mas vivem em favelas", disse Ranjana Kumari, diretor do Centro de Pesquisa Social em Nova Déli, uma agência não-governamental focada na mão-de-obra da Índia.
"Existe um grave defeito nas políticas do governo que regem nossa economia. Precisa haver mais iniciativa do governo para cuidar desses trabalhadores e lhes dar uma parcela maior da riqueza", disse Kumari.
Até agora, o governo pró-crescimento da Índia não quis sobrecarregar as empresas com regulamentos caros que fariam exatamente isso. E muitas empresas indianas não estão dispostas a absorvê-los como empregados formais, que teriam direito aos poucos benefícios já exigidos por lei: benefícios de saúde, aposentadoria, férias e licenças remuneradas.
Em conseqüência, cerca de 95% da força de trabalho indiana permanece informal e desorganizada. "Idealmente, queremos formalizar toda a nossa força de trabalho, lhe dar aposentadoria e benefícios de saúde e assim por diante, mas isso vai levar muito tempo", disse Pronab Sen, o principal estatístico do governo indiano.
Parte do impasse é que cada vez mais indianos das zonas rurais estão abandonando suas fazendas e mudando-se para áreas urbanas em busca de melhores empregos como motoristas de riquixás, varredores de rua e barbeiros. Esses trabalhadores são difíceis de contabilizar e muito mais difíceis de organizar.
"O setor informal é uma transição muito importante entre as áreas rurais e as cidades. E ele permite que as pessoas aprendam diferentes ofícios que são mais úteis e pagam melhor", disse Sen.
À sombra do tamarindeiro, Takur mergulhou seu pincel de barba em água quente e fez espuma em mais um rosto, o terceiro em uma hora. Ele disse que geralmente consegue ganhar pelo menos US$ 6 por dia, o triplo do salário diário da maioria dos indianos. É o suficiente para sustentar sua mulher e seus três filhos, de 6, 4 e 2 anos.
Perguntado como o sucesso da Índia o beneficiou, ele disse: "Não sei".
Mas Ranjit Singh, 25, um motorista de táxi riquixá que espera sua vez na cadeira de barbeiro, indicou que Takur aumentou seus preços no ano passado.
"Sim, é verdade, mas isso não foi realmente um lucro para mim", disse Takur, usando a palma da mão para tirar a espuma da lâmina. "Meu suprimentos estão mais caros, por isso preciso transferir o custo para o cliente."
"Seus custos aumentaram um pouco", disse Singh. "Mas você mais que duplicou seus preços."
UOL Noticias
Om Shanti