18 fevereiro 2009

Ayurveda estimula o turismo médico na Índia

Namaskar

Cresce a procura por medicinas alternativas. Turistas ocidentais viajam à Índia atraídos por essa ciência milenar. Nas grandes cidades abrem-se clínicas ayurvédicas para o turismo de saúde. Antes de curar os sintomas, o ayurveda investiga a causa das doenças

Jordi Joan Baños
Em Nova Déli

Há mais de 40 anos a ioga seduz milhões de ocidentais com suas técnicas de respiração, concentração e elasticidade. Ultimamente, outra sabedoria indiana milenar, o ayurveda, promete benefícios além da mente: curar o corpo, ou pelo menos prevenir a doença e retardar o envelhecimento. No entanto, diversos obstáculos de homologação fizeram que esse antigo sistema de cura ficasse reduzido na Europa principalmente a tratamentos cosméticos e massagens.

As autoridades indianas há mais de uma década tentam colocar o ayurveda -palavra que poderia ser traduzida como "ciência da vida"- acima de qualquer suspeita, com um notável esforço científico de pesquisa, sistematização e ensino. Sua origem remota está nos vedas -livros sagrados hindus- escritos há 3 mil anos no norte da Índia. No entanto, as invasões muçulmanas substituíram aos poucos ali a tradição médica autóctone pela árabe-persa. Esse tipo de medicina, conhecida como unai, também está sob o guarda-chuva do organismo público Ayush, que corresponde às iniciais de ayurveda, ioga, unai, siddha (medicina tradicional do sul da Índia) e homeopatia. Esta última está muito disseminada na Índia, apesar de ter sua origem na Europa do século 19.

Ayurveda significa em sânscrito "ciência da vida". Seus textos mais antigos têm 2.300 anos e mostram uma medicina indiana independente da grega ou da chinesa. O ayurveda floresceu durante o domínio budista da Índia, quando era ensinado nas universidades como Nalanda ou Taxila. O imperador Ashoka favoreceu a vertente relacionada às ervas medicinais, em detrimento da cirurgia.

O ayurveda vai além da supressão dos sintomas. Pretende eliminar os motivos da doença, integrando corpo e mente e dando atenção à dieta e à forma de vida. Os odores -de ungüentos a massagens- e os sabores da dieta têm efeitos psicológicos.

A licenciatura em medicina e cirurgia ayurvédica exige cinco anos e meio de estudos regrados na Índia, incluindo um ano de prática. Recomendam-se conhecimentos anteriores de física, química e biologia e noções de sânscrito. A universidade indiana de Benares é uma das duas que oferecem pós-graduação e um doutorado de três anos em ayurveda.
Todos os anos 12.200 aspirantes se formam nos 242 centros oficiais de ensino, com a intenção de integrar-se a algum dos 2.400 hospitais indianos que oferecem esse tipo de medicina.
UMA CIÊNCIA COM MAIS DE 2.300 ANOS

CUIDADOS COM O AYURVEDA
Seria pois no sul que sobreviveria o ayurveda. Especialmente em Kerala (Índia), que nos últimos anos acrescentou à sua oferta de praias cercadas de coqueiros uma experiência direta com o ayurveda. Em centros turísticos como Varkala ou Cochin proliferam as ofertas de "massagens ayurvédicas genuínas", de preço e qualidade muito variáveis. Os óleos aromáticos aplicados na testa ou nas têmporas -ou mais energicamente nas costas ou por todo o corpo- são a quintessência da terapia.

O ayurveda não só descontrai e embeleza como cheira maravilhosamente bem. Kerala faz justiça à fama rejuvenescedora do ayurveda, já que sua expectativa de vida, dez anos superior à média indiana, é comparável à dos EUA, apesar de a renda per capita ser infinitamente inferior. Na América do Norte os produtos de beleza ayurvédicos são a última moda, com esse mesmo nome ou o mais pronunciável, embora absurdo, de aveda.

O escritor e diplomata Shashi Tharoor é um convertido tardio a esses tratamentos. Tharoor, cuja agenda, como a de muitos turistas, só permite alguns dias de tratamentos purificadores, reconhece que há uma certa banalização nos pacotes turísticos que incluem ayurveda, mas que seus benefícios são inegáveis para qualquer pessoa.

É que o ayurveda entrou com força no circuito do turismo de spa e bem-estar, para ocidentais que necessitam recarregar as baterias. São inúmeros os estabelecimentos turísticos palacianos com tratamentos ayurvédicos, e hotéis que antes exibiam com arrogância sua "ocidentalidade" hoje vendem a "indianidade" global. Nas grandes cidades como Nova Déli abrem-se clínicas ayurvédicas pensadas para o turismo médico, com tarifas decididamente ocidentais.

O ayurveda não cura os sintomas, como a medicina ocidental, mas vai à raiz do problema e estabelece um diagnóstico integral -ou holístico- do indivíduo. Cada um é catalogado como um tipo de paciente e recebe massagens, óleos, dieta e tratamento individualizados. O ayurveda inclui uma sofisticada farmacopéia, onde as propriedades de milhares de plantas estão codificadas há séculos.

As barreiras para alguns produtos ayurvédicos na Europa e nos EUA nos últimos anos tiveram mais a ver com o uso de metais em alguns preparados. A inclusão de quantidades ínfimas de mercúrio, cádmio, ferro ou chumbo causou problemas de homologação no Canadá e outros países -e sua retirada do mercado. Para o doutor Ashutush, de uma clínica ayurvédica em Nova Déli, "não há problema se comprarem as substâncias de uma companhia renomada".

Nesse sentido, ele cita a Himalaya, empresa fundada há 80 anos e que conta com um amplo catálogo de produtos de saúde e beleza que são vendidos em dezenas de países. Na própria Índia, seus cremes e pílulas, que custam 1 euro o frasco, são cobiçados pelos turistas ocidentais.

Menos demanda têm os produtos panchgavya, que utilizam os cinco produtos permitidos da vaca sagrada: leite, manteiga, iogurte, urina e excremento. Apesar de o nacionalismo hindu ter promovido os centros de pesquisa de panchgavya, nem todo mundo se dispõe a usar sabão à base de urina, apesar de seus efeitos anti-sépticos.

Há uma Academia Nacional de Ayurveda, que oferece cursos de vários anos e cujo diretor, o doutor Prashad, resume sua disciplina como "uma forma de medicina natural". Mais elaborada é a resposta do doutor Lavekar, do Instituto de Ayurveda de Nova Déli: "É uma ciência da saúde holística, que trata completamente o corpo e a mente, e não só a doença". Segundo Lavekar, "tudo o que existe no mundo se reflete em nosso corpo, somos uma réplica criativa do universo". Portanto, a função do ayurveda seria "manter o equilíbrio com a natureza e prevenir as crises de saúde". Dito de outro modo, "o ayurveda não se encarrega tanto de suprimir a enfermidade como de manter a saúde". Daí sua ênfase para a dieta, "sobretudo vegetariana, embora não exclusivamente".

O ayurveda prescreve um tratamento e um tipo de dieta diferentes segundo o "humor" de cada pessoa -depois de examinar seu corpo, seu estado de ânimo, seu histórico e seu estilo de vida. Outra palavra-chave é "rejuvenescer". Lavekar não hesita em afirmar que "o ayurveda freia o envelhecimento". "A medicina ocidental acabou dando razão ao nosso enfoque", conclui Lavekar. Mas também há quem critique que o ayurveda só cura quem não está doente. Em caso de emergência, os próprios médicos ayurvédicos recorrem à medicina ocidental.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Fonte: https://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lavanguardia/2008/04/20/ult2684u433.jhtm

Colaborou: Dr. Nicolas


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