24 junho 2009

Leite Indo-Brasileiro





Brasil Importa Embriões Indianos de Zebu

Depois de 12 anos de negociações para abertura das importações de material genético do zebu indiano, os primeiros embriões das raças guzerá, gir e nelore importados da Índia chegam ao Brasil. A tecnologia foi essencial para que os criadores brasileiros iniciassem esse novo capítulo na história do zebu.

Pelos desertos do estado indiano de Gujirat, o pecuarista brasileiro Geraldo Melo Filho percorreu milhares de quilômetros em busca de rebanhos puros da raça guzerá. Quando desembarcou em Ahmedabad, a maior cidade do estado, ele percebeu que a procura por bons animais exigiria longas viagens pela terra nativa do guzerá, pois, nas proximidades da cidade, grande parte dos animais eram mestiços. Como os indianos criam bovinos apenas para tração e produção de leite, o governo incentiva há vários anos o cruzamento entre zebuínos e raças taurinas leiteiras para garantir mais leite à população. Essa política tem resultado na redução dos rebanhos de zebuínos puros.

Somente quando saiu de Ahmedabad em direção ao deserto, o criador Geraldo Melo Filho pôde encontrar lotes de animais puros. “Os mestiços não conseguiriam sobreviver às temperaturas tão altas e à escassez de comida do deserto. O guzerá, por ter rusticidade, vive bem nessa região. O gado come o que acha, como, por exemplo, palhada de alguma lavoura já colhida e, mesmo assim, dá boa quantidade de leite para consumo das famílias. A pureza dos lotes no deserto é fenomenal”, lembra Melo, que esteve na Índia nos anos de 2003, 2004 e 2006 em busca de bom material genético para importar para o Brasil. Ele é criador de zebu há 28 anos.

Foram mais de cinco mil quilômetros percorridos na tentativa de selecionar bons zebuínos. Uma tarefa árdua que começa a resultar em um final feliz. Depois de mais de uma década de negociações, os governos do Brasil e da Índia assinaram o protocolo sanitário que permite a importação apenas de embriões zebuínos. O acordo foi assinado em fevereiro de 2008, mas os primeiros lotes só chegaram em solo brasileiro em dezembro devido ao excesso de burocracia.

A liberação para o envio da primeira remessa de cerca de 350 embriões (300 nelore e 50 gir e guzerá) aconteceu somente após a intervenção direta do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva junto ao governo indiano durante viagem oficial àquele país, no ano passado. O embaixador do Brasil na Índia, Marco Brandão, também teve participação importante na reta final das negociações. “O empenho do presidente Lula para a concretização dessa abertura foi decisivo. A retomada das importações também é resultado de 12 anos de trabalho abnegado, arrojado e inovador de criadores brasileiros naquele país, com a parceria do Ministério da Agricultura, da Embrapa, da CNA e da ABCZ”, afirma o presidente da ABCZ, José Olavo Borges Mendes, que integrou a comitiva presidencial quando Lula esteve na Índia em 2004.


O pecuarista e vice-presidente da ABCZ, Jonas Barcellos, é considerado pioneiro nessa nova saga do zebu. No final da década de 90, ciente da necessidade de introduzir novas linhagens das raças zebuínas para resolver o problema da consaguinidade, o criador decidiu comprar animais na Índia. “Consegui garimpar bons animais em várias regiões da Índia, mas, na hora de trazer o gado para o Brasil, não consegui a liberação do governo brasileiro, que alegou risco sanitário. A partir daí, foram anos e anos de muito esforço para garantir a reabertura das importações”, lembra Barcellos, único criador brasileiro que na época adquiriu gado naquele país.

Na lista de entraves superados ao longo dos últimos 12 anos de negociações, consta até mesmo preocupações religiosas devido ao fato dos bovinos serem sagrados para os adeptos do hinduísmo, religião predominante na Índia. Por parte do Brasil, os entraves foram ligados à questão sanitária.

Segundo o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Inácio Afonso Kroetz, as exigências do governo brasileiro são feitas para os países onde o quadro sanitário apresenta enfermidades diferentes das registradas por aqui.
Os embriões coletados dos animais selecionados por criadores brasileiros na Índia passaram por testes para detectar possíveis enfermidades. Em seguida, foram submetidos à lavagem com substância química para eliminar qualquer risco de doença. Após esse processo, os embriões foram congelados e enviados ao Brasil. Como medida de segurança, uma amostra do líquido extraído na hora da coleta ou lavagem uterina e os embriões degenerados foram enviados junto com os embriões para serem analisados no Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), em Pedro Leopoldo (MG).

A etapa seguinte será a transferência desses embriões para as fêmeas receptoras. Todas as novilhas que serão utilizadas, cerca de 400, passarão por testes, para detectar possíveis doenças, e por um período de quarentena. Elas ficarão na ilha de Cananéia, local onde fica o quarentenário oficial do Ministério da Agricultura. Comprovada a prenhez, as novilhas serão acompanhas até o parto. Somente depois de novos testes sanitários é que os bezerros serão liberados para os importadores. A expectativa é de que os primeiros exemplares nasçam até o final de 2009.

Cerca de 11 novas linhagens de nelore devem ser introduzidas no Brasil. Entre os importadores desse “sangue novo”, está o criador do Mato Grosso do Sul e ex-presidente da ABCZ, Orestes Prata Tibery Júnior, cuja família teve participação direta em importações passadas. Em busca de animais da raça nelore com boa caracterização racial e de alta fertilidade, o filho do produtor, Ângelo Tibery, viajou para a Índia três vezes. Em uma delas, ele permaneceu quase 60 dias no país percorrendo várias regiões onde há rebanhos zebuínos. “Foi difícil achar material genético de qualidade. Muitas vezes ele saía de madrugada de uma cidade e viajava vários quilô¬metros para chegar em regiões onde se tinha notícia de um bom gado e não encontrava nada. Mas foi possível encontrar bons exemplares ao final das viagens”, conta Orestes. Os embriões dos animais selecionados por Ângelo Tibery ainda não chegaram ao Brasil, mas Orestes acredita que eles trarão uma contribuição importante para o rebanho brasileiro, principalmente em relação à habilidade materna das fêmeas. “Na Índia, as vacas são magras e mesmo assim conseguem criar bem seus bezerros. Precisamos ressaltar ainda mais essa característica nas nossas vacas”, diz.

Fonte: Revista ABCZ













































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