Repassando...
Contribuições da Índia Antiga para a Cosmologia
A Cosmologia do Bhagavata Purana
Por: Richard L. Thompson
Traduzido por Maurício Correia de Mello
Uma Visão Geral
A mente humana naturalmente curiosa anseia compreender o universo e o lugar do homem nele. Hoje os cientistas dependem de telescópios potentes e sofisticados computadores para formular teorias cosmológicas. Em tempos antigos, as pessoas recebiam a informação de livros da sabedoria tradicional. Os seguidores da cultura antiga da Índia, por exemplo, aprendiam sobre o universo em escrituras como o Srimad-Bhagavatam, ou Bhagavata Purana. Mas a descrição do universo contida no Bhagavatam frequentemente desconcerta o moderno estudante da literatura védica. Aqui o cientista Dr. Richard Thompson, do Bhaktivedanta Instituto, sugere um quadro para a compreensão das descrições do Bhagavatam que combinam com as experiências e descobertas modernas.
Jambudvipa: O Srimad-Bhagavatam descreve que o universo está dentro de uma série de conchas esféricas que estão divididas em duas partes por uma terra plana chamada Bhu-mandala. Uma série de dvipas, ou "ilhas", e os oceanos compõem Bhu-mandala. No centro da Bhu-mandala encontra-se a “ilha” circular de Jambudvipa, cuja característica mais proeminente é o Monte Meru, em forma de cone. A ilustração principal aqui mostra uma visão mais próxima do Jambudvipa e na base do Monte Meru.
O Srimad Bhagavatam apresenta uma concepção geocêntrica do cosmos. À primeira vista a cosmologia parece estranha, mas um olhar mais atento revela que a cosmologia do Bhagavatam não só descreve o mundo de nossa experiência, mas que apresenta também uma muito maior e mais completa imagem cosmológica. Vou explicar. O modo de apresentação do Srimad-Bhagavatam é muito diferente da abordagem moderna que nos é familiar. Embora o Bhagavatam da "Terra" (em forma do disco Bhu-mandala) possa parecer irrealista, um estudo cuidadoso mostra que o Bhagavatam Bhu-mandala é utilizado para representar, pelo menos, quatro razoáveis e coerentes modelos: (1) um mapa do globo terrestre numa projeção polar, (2) um mapa do sistema solar (3), um mapa topográfico do centro-sul da Ásia, e (4) um mapa do reino celestial dos semideuses. Caitanya Mahaprabhu comentou, "Em cada verso do Srimad-Bhagavatam e em cada sílaba, existem vários significados." (Caitanya-caritamrita, Madhya 24.318) Isto parece ser verdadeiro, em especial, na seção cosmológica do Bhagavatam, e é interessante ver como podemos expor e esclarecer alguns dos significados tendo como referência a astronomia moderna.
Figura 1
Quando uma estrutura é utilizada para representar várias coisas em um mapa composto, pode haver aparentes contradições. Mas estas não causam problemas se nós entendemos a intenção subjacente. Podemos traçar um paralelo com pinturas medievais retratando várias partes de uma história em uma composição. Por exemplo, Masaccio, na pintura "Tributo em dinheiro" (Figura 1) mostra São Pedro em três partes de uma história bíblica. Vemo-lo recebendo uma moeda por um peixe, falando com Jesus e pagando um tributo a um coletor de impostos. A partir de uma perspectiva literal é contraditório ver São Pedro fazendo três coisas ao mesmo tempo. Porém cada fase da história bíblica faz sentido no seu próprio contexto.
Figura 2
Uma pintura similar da Índia (Figura 2) mostra três partes de uma história de Krishna. Essas pinturas contêm contradições aparentes, tais como imagens de um personagem em diferentes lugares, mas isso não incomodará uma pessoa que entenda a linha da história. O mesmo acontece com o Bhagavatam, que utiliza um modelo para representar diferentes características do cosmos.
Continua amanha...
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