27 março 2010

Depoimento da Elenice Novaes


Namaskar

Fique hoje com o depoimento da Elenice, leitora de anos do Indiagestao.

Olá, meu nome é Elenice, nascida e criada em Nova Resende.- MG.

Nunca imaginei viver o que vivi mês passado, aliás, nunca imaginei viver uma história de amor como a que estou vivendo. A vida é mesmo misteriosa, e uma caixinha de surpresas.

Conheci meu namorado há um ano e alguns meses, trocamos e-mail e telefone e começamos a conversar pela internet. Eu nunca imaginei que isto levaria a algum lugar, mas com o passar do tempo estávamos cada dia mais e mais apaixonados um pelo outro.

Resolvi ir conhecer a família dele. Embora sentia muito medo de ser rejeitada, pois via na televisão que eles não era muito afetivos com estrangeiros, criei coragem e fui. Posso dizer que foram dias fantásticos, vivi coisas nas quais guardarei como lembranças para sempre no meu coração como um presente de Deus, tamanha felicidade que vivi.

Meu namorado mora na cidade de Ludhiana, no norte da India Estado de Punjab. É um Estado muito bonito e com uma história muito triste, marcada pela guerra, preconceito e ódio.

No ano de 1947, a India foi libertada do domínio britânico, e neste Estado de Punjab entrou uma guerra entre sikh e muçulmanos o que resultou na morte de milhares de ambas as partes. No final, o Estado de Punjab acabou sendo divido em duas partes, sendo a outra parte formou o país Paquistão, que é a parte Muçulmana, a parte sikh continuou sendo território indiano, e é lá que onde meu namorado mora.

Historiadores dizem que é no Estado de Punjab que se encontra a civilização mais antiga do mundo, a civilização do vale do hindu, a primeira civilização da India (hoje no Paquistao). Lá tem de tudo e mais um pouco. Achei bastante moderno, porém com um tom de antiguidade.

As pizzarias, restaurantes, lanchonetes, sorveterias, cinemas, shoppings, são lindíssimos e eles atendem muito bem! Visitei uma cidade chamada Amiritsar, lá algumas pessoas pediram para tirar fotos comigo, me acharam diferente por eu ser estrangeira (Efeito E.T.), e quando dizia que sou brasilerias todos perguntavam sobre o nosso futebol. Confesso que passei aperto com eles, sabiam mais sobre futebol do que eu que sou brasileira.


Amiritsar é uma das cidades indianas mais próxima ao Paquistão, é lá onde se encontra o templo dourado, o local mais sagrado para os sikhs. A cidade foi fundada em 1577 pelo quarto guru Sikh. Em 1761, o templo foi destruído e saqueado por Ahmad Shah Durani e em 1764, já havia sido reconstruído. Em 1802, Ranjit Singh cobriu os dômos e a parte principal do templo com cobre e foi então, que ficou conhecido como o "Templo Dourado"'. Milhares de fiéis visitam o templo todo dia e nos arredores há sempre um grande comércio de doces, bebidas, lanches, souvenirs e roupas à disposição dos visitantes. Motoristas de Rickshaw (espécie de triciclo-taxi) ficam à espera de possíveis clientes como se fossem abutres, mas, um passeio pelas ruas estreitas da cidade velha pode ser muito divertido.

Os homens Sikh, são facilmente reconhecidos por seus turbantes coloridos, perfeitamente enrolados e pelo seu físico. São bem maiores do que a maioria dos indianos. Sikhs acreditam em um Deus e não veneram ídolos, apenas seus gurus. Apesar de ser uma cultura forte e radical, praticam tolerância e amor ao próximo. Uma de suas práticas mais marcantes é a de oferecer teto e comida à todos que vem aos gurdwaras (templo). Independente da raça ou religião. Lá comidas são servidas dia e noite, comidas feitas com ajuda voluntária dos fieis. A parte ruim é que a comida é servida com a mãos suadas e unhas pretas dos cozinheiros :P difícil para uma firangui engolir .

Sikhismo esta é a religião do meu namorado. Um verdadeiro Sikh teoricamente não fuma, não bebe nem usa drogas, então tabaco ou qualquer substância tóxica, não são permitidos no templo, embora eu vi muitos adolescentes e jovens fumando nas ruas de algumas cidades indiana como fazem aqui no Brasil. Na verdade não é permitido fumar à uma distância menor do que 400mts do complexo do templo.

Achei as mocinhas indianas muito chic e bem arrumadas. Usam calça jeans, sandálias de salto alto e blusinhas comportadinhas. Usam brincos lindíssimos e são extremamente bem cuidadosas com a aparência, cabelo muito bem penteados e são muito perfumadas. Comecei a raciocinar e percebi que machista é a nossa sociedade, a nossa cultura que impõe padrões de beleza a nossas mulheres, e faz com que a cultura da “nudez” prevaleça, quanto mais “sexy”, ou seja, mais mostrando o corpo mas chama a atenção dos homens, para mim isto é que é machismo! Mulheres que ficam expondo seus corpos nas ruas com o intuito mesmo que seja indireto de chamar a atenção dos homens.



Aos poucos eles foram se sentindo mais a vontade comigo, puser minha sogra ainda olhava para mim com um certo receio...hehhehe almoçamos, a comida mais gostosa que já comi em todo os meus 20 anos de idade! Eles serviram eu e meu namorado, e ficaram esperando nos dois terminarmos para que eles comessem até as crianças, quietinhas esperando na maior educação do mundo! Fiquei encantada! Lembrei me de quando eu era criança e meu avo dizia para nos esperarmos as visitas comerem para depois comer, senti uma saudade muito grande de minha infância no sítio de meu avo, quando minha avó inda estava viva. Senti tristeza em ver que isto não existe hoje em dia no Brasil. Me familiarizei com tudo aquilo, achei lindo a etiqueta indiana, as mulheres comeram por último, foram elas quem prepararam a comida, então elas esperaram que os maridos ou convidados comam e aprovam, um elogio é tudo! Para elas, elas são as senhoras da casa, a pessoa mais importante! isto tudo é etiqueta! Como a francesa tem suas centenas de regras, a indiana também tem a sua! Não é preconceito não como muitas dizem!



Bom, finalizando a India é muito moderna economicamente falando, porém tem seus contrastes como o Brasil, lá se vê rico e pobre, limpeza e sujeira, nada diferente daqui, porém com um toque especial de civilização antiga com cultura própria e costumes. Uma das cenas que mais me chocou e nunca deixará minha memória foi quando vi um menino morador de rua ajoelhado próximo a uma arvore rezando em frente ao um grande shopping enquanto crianças se divertiam com seus pais, compravam doces, brinquedos gastavam dinheiro aquela pobre criança sobre um calor de aproximadamente 45 graus pedia a um deus na maior fé como se por um milagre acontecesse e pudesse lhe dar uma vida digna, aquilo me encheu os olhos, também não foi fácil me deparar com os centenas de pedintes nas ruas indianas, eles olhavam para mim como se olhassem para um salvador, na índia os próprios indianos não gostam de dar esmolas aos pobres, ele acham que precisam deixar a pessoa seguir seu karma, então quando eles vê um estrangeiros sabem que iram ganhar um pouquinho, quem sabe o suficiente para sobreviver a mais um dia de terrível sofrimento. Me revoltei muito ao lembrar dos mendigos brasileiros, é comprovado que a maioria estão nas ruas devido ao uso de drogas e álcool, eles não estão ali porque nasceram dalits ou de uma casta baixa, estão ali porque algum dia em suas vidas optaram por aquele tipo de vida, ta certo que existe muita desigualdade social no Brasil, mas no Brasil ao menos existe esperança, tudo mundo pode freqüentar uma escola, ter acesso a lugares públicos e etc na índia nem sempre é assim , não vi esperança nos olhos daquelas mendigos apenas submissão, aceitação da vida mesmo porque para eles realmente não existe nenhuma esperança, quem sabe a esperança deles seja a morte, quem sabe na outra vida poderiam nascer de uma casta superior. Isto é chocante! Também me choquei com a tremenda falta de higiene indiana, por vezes pedi a Deus que não me deixasse vomitar na frente de todo mundo, existe higiene em locais mais ricos, nos vilarejos e lugares pobres a falta de higiene é predominante. O momento mais duro de minha viagem foi quando tive que me despedir dele no aeroporto mas tenho certeza do reencontro. Acredito que nada acontece por acaso nesta vida, e que Deus ainda tem muitas surpresas boas para mim e para ele. Afinal, o amor supera todas as barreiras."

























































































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