Nâmaskar
Hoje vou contar o enredo do excelente filme WATER, escrito e dirigido pela fantástica cineasta indiana Deepa Mehta. Esse filme é de 2005 e os atores principais são John Abraham e Lisa Ray, ambos muito bonitos e talentosos.
O filme chama-se WATER, traduzindo - Água. E faz parte da série Fire, Earth, Water (Fogo, Terra, Água). O DVD possui legenda em inglês e francês, pois foi lançado no Canadá.
O filme começa com a seguinte citação:
“Uma viúva deve sofrer prolongadamente até sua morte, auto-contida e casta. Uma esposa virtuosa que se mantém casta quando seu marido morre vai para o céu. Uma mulher que é infiel a seu marido renasce no ventre de um chacal”.
As Leis de Manu
Capítulo 5 versículos 156-161
Dharamshastras (Textos Sagrados Hindus)
A estória é de uma menina que casada com um homem muito mais velho e fica viúva aos 7 anos de idade. O filme se passa em 1938, época em que Mahatma Gandhi tenta introduzir na Índia idéias de liberdade, igualdade, fim do sistema de castas e da discriminação.
ROTEIRO para assistir ao filme:
Já logo na primeira cena você vê o marido moribundo ADULTO, sendo levado em uma carroça para a cidade de Veranasi, onde os hindus ficam esperando morrer, pois segundo a crença hindu, quem morre lá não precisa re-encarnar novamente. A esposa do moribundo, uma menina de 7 anos de idade cujo nome é Chuyia, acompanha o marido na carroça juntamente com seu pai e sua sogra.
O marido falece e passa a cena das fogueiras a céu aberto onde são realizadas as cremações em estilo tradicional.
A sogra retira as pulseiras de casada da menina (como aliança de casamento) e em seguida passa o ritual de cortar o cabelo da viúva e raspar-lhe a cabeça completamente. A partir de agora Chuyia terá que vestir só sari branco. Mesmo se a pessoa antes era não-vegetariana, agora passará a ser vegetariana. Viúvas até hoje, 2007 seguem esta regra a risca, sei disso pois minha sogra faz igual. O motivo? Para não ter desejos sexuais e se manter casta. Os hindus crêem que a carne assim como outros alimentos como cebola e alho dão “quentura” no corpo.
Naturalmente, ao mostrar fatos reais como a condição subumana de vida das viúvas, Deepa Mehta mais uma vez, coloca o dedo na ferida da hipócrita sociedade indiana; e por isso mesmo ela não é mais bem-vinda por aqui.
A Índia não quer ver revelada sua realidade desumana e brutal e tenta de todos os modos mostrar ao ocidente uma imagem de desenvolvimento espiritual que na realidade não existe.
O pai de Chuyia e sua sogra levam-na para um “viuvário” ou seja, casa de viúvas, e a deixam lá. Ela não quer ficar e se rebela mordendo a perna da matriarca da casa.
Todas as atrizes tiveram que raspar os cabelos de verdade, era exigência de Deepa Mehta.
Uma das viúvas passa pasta de curcuma (açafrão da terra) na careca da menina para refrescar. As viúvas são extremamente pobres e nem usam blusa por baixo do sari.
A velhinha cujo nome é Patiraji gostou que Chuyia mordeu a perna da matriarca e lhe pede um doce.
Chuyia sai do viuvário, vai até um templo onde muitas viúvas oram para Krishna e retorna para o viuvário.
A viúva Kalyani, a única com cabelo, mora na parte de cima da casa. Ela chama a menina e mostra-lhe seu cãozinho. Ela explica que cães dão azar e por isso tem que mante-lo escondido. Ela diz para a menina que esta deve rezar 108 vezes para Krishna tirá-la do viuvário. A menina diz que só sabe contar até 10 e Kalyani retira sua mala do pescoço de Rudraksha com 108 contas e entrega a menina.
Todas as viúvas deitam-se no chão sobre esteiras, só a matriarca tem cama.
A velhinha Patiraji conta a menina sobre os doces que comeu no dia do seu casamento. (Indianos AMAM doces).
No dia seguinte Kalyani e a menina estão lavando o cão mas ele foge. A menina sai correndo atrás do animal e acaba encontrando Narayan. Kalyani sai correndo atrás da menina e sem querer topa com uma senhora que lhe dá uma repremenda dizendo “você me poluiu, agora terei que tomar outro banho”. (As viúvas são consideradas pessoas sujas).
Narayan leva a menina até onde Kalyani está e quando a vê se apaixona. É amor a primeira vista.
Narayan está de volta para casa após ter se formado em Direito. Ele volta revolucionário e solidário as idéias de Gandhi.
Um travesti é conhecido da matriarca do viuvário e dá-lhe cachimbos de ópio e maconha e comenta com ela as idéias revolucionárias de Gandhi. É este travesti que lava Kalyani para se prostituir e ganhar dinheiro para o aluguel e despesas do viuvário.
O pai de um amigo de Narayan usa os “serviços” das viúvas. Narayan tenta convencer o amigo a juntar-se a causa de Gandhi pela independência da Índia.
Durante a reza as margens do sagrado rio Ganges, a menina pergunta onde fica o viuvário para homens e as viúvas entram em comoção a amaldiçoando.
Observe a menina comendo com a mão direita sobre uma folha de bananeira. Ainda é assim em muitos lugares da Índia atual.
Narayan apaixonado vai até o viuvário mas não é recebido. (Não é permitido a entrada de homens nos viuvários). No entanto sem querer Kalyani torce um sari na cabeça de Narayan.
O filme é doce, a fotografia é linda e as músicas são belas e suaves, com certeza não justifica a enorme onda de ameaças que Deepa Mehta sofreu.
Durante uma cerimônia de casamento o pastor da uma bronca na viuva que pega água e diz para ela “não deixar cair sua sombra neles”. Até a sombra das viuvas é impura e azarenta.
Com o dinheiro que recebe de esmola a menina compra um doce para a velhinha. Enquanto a velhinha come o doce ela se lembra do dia de seu casamento. Ela tinha 7 anos de idade quando casou com um homem adulto.
O travesti leva novamente Kalyani para se prostituir na casa do amigo de Narayan. Ele (Narayan) vê o travesti e pergunta o motivo. O amigo explica tudo e Narayan fica indignado.
Durante a noite a velhinha que comeu o doce passa mal e morre. Ninguém tem dinheiro para a cremação então Kalyani paga pela cremação.
A menina conversa com uma viúva que lhe diz: “se Deus quiser ela re-encarnará homem”. Nascer mulher na Índia é uma tortura, praticamente um sacrilégio.
Narayan envia um bilhete a Kalyani e pede para se encontrar com ele a noite. No encontro Narayan recita um poema em sânscrito para Kalyani. Eles conversam e ela diz que ficou viuva aos 9 anos de idade.
No dia da cremação da velhinha não é permitido comer ou beber água e a menina reclama de fome.
A matriarca dá um sari novo para Kalyani e diz que ela é a jóia do viuvário, que ela precisar se cuidar e ser feliz para fazer os clientes felizes. Kalyani fica brava e diz que isto não é correto.
Narayan avisa Kalyani que vai tentar um emprego em Calcutá, ela fica triste e ele diz que não vai a lugar algum sem ela.
A mãe de Narayan quer que ele case, ele avisa que já tem uma moça em vista e diz que ela é viuva. A mãe fica muito brava, diz que é pecado casar com viuva e chora.
A menina conta a matriarca que Kalyani vai casar. A matriarca corta-lhe o cabelo e a tranca para que ela não se case pois isso traria desgraça para o viuvário. (Os indianos são EXTREMAMENTE supersticiosos).
A menina em vingança mata o papagaio da matriarca.
Uma viuva pergunta ao pastor por que as viuvas não podem casarem novamente e ele diz que pode. Que há uma lei que permite. Ao voltar para casa e viuva vai até a matriarca e pega a chave para soltar Kalyani.
Narayan se encontra com Kalyani.
Festival de Holi, o festival das cores, propagando por Krishna. Uns passam pó colorido nos outros.
Narayan está levando Kalyani para casa. Ela reconhece a casa e pergunta o nome do pai dele. Ele responde e ela reconhece como sendo um de seus “clientes”. Ela entra em pânico e quer retornar, ela a leva de volta.
Ele conversa com o pai e o pai confessa que transa com viuvas. A esposa sabe, mas nada diz (as mulheres são MUITO submissas na Índia). O pai diz que as viuvas devem considerar uma benção irem pra cama com um brâmane. Narayan fica enfurecido e diz que tem nojo do pai.
Kalyani volta para o viuvário e a matriarca quer que ela vá visitar um cliente. Kalyani vai para o rio Ganges e se suicida.
No dia seguinte, mesmo sabendo que Kalyani já transou com o pai dele, Narayan vai busca-la para se casarem e recebe a notícia de sua morte.
A matriarca já não tem mais Kalyani para explorar (prostituir) e manda a menina. A menina acha que vão leva-la devolta a casa de sua mãe e vai. Chegando na casa do pai de Narayan o travesti diz que ela deve brincar e comer doces ali antes de seguirem viagem. Ela acredita e vai.
Uma viuva se apieda da menina e sai atrás dela mas já é tarde demais. Sem saber ao certo o que fazer ela a menina a estação de trem onde Gandhi fez uma parada de 5 minutos para orar e falar ao público. Ela quer entregar a menina a alguém para que a dêem a Gandhi mas ninguém aceita. Narayan está no trem indo para Calcutá e pega a menina.
Pensei que o filme fosse ser intenso e contundente, mas Deepa Mehta ‘pegou leve’ e nem abordou questões mais sérias como a gravidez de viúvas que transavam com os pastores hindus em troca de um prato de comida.
“Há 34 milhões de viuvas na Índia segundo o Censo de 2001, muitas continuam a viver sob condições subumanas, como prescrito 2000 anos atrás nos textos sagrados de Manu.” Com esta frase, o filme termina.
Fique agora com algumas cenas do filme e veja que maravilha!
http://youtube.com/watch?v=4SzCE1tuZoM
Cena do filme Water de Deepa Mehta indicado para o Oscar de 2006 como melhor filme estrangeiro!!!
http://youtube.com/watch?v=h2K3xwnzxbQ
Mais cenas do filme Water
http://youtube.com/watch?v=riEh7asIHQA
Naina Neer Bahai
http://youtube.com/watch?v=3YU12vbIPCs
Sham Rang Dei
http://youtube.com/watch?v=H6sVnDxn1cs&mode=related&search=
Aayo Re Sakii
http://youtube.com/watch?v=KMYEK_4Io2g
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http://youtube.com/watch?v=OtxJGmWklPo
Vaishnava Jana
OM Shanti