Nâmaskar
Hoje é um dia muito especial pois vamos falar de uma arte indiana muito bela, a DANÇA.
Eu particularmente adoro dança indiana, acho linda mesmo, me fascina!!
Nossa convidada especial, Shaide, é dançarina profissional e vai nos explicar um pouco sobre os diversos tipos de dança que temos aqui na Índia. Shaide é também a dona da comunidade Dança Indiana no Orkut http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1421416 e possui o website http://www.shaide.tk/
A dança e a música como forma de devoção.
Toda a cultura indiana está diretamente atrelada a religiosidade, e as formas artísticas que ainda hoje podemos ver, vem de um tempo onde o caminho religioso era essencial na vida do ser humano. Onde nada era feito sem que os deuses fossem consultados, agraciados, reverenciados. Mesmo no Ocidente, quando reproduzimos as danças ou a música da Índia, mantemos nossa devoção, pedimos as bençãos de Shiva, de Krishna, de Ganesha e de outros mais do panteão hindu. Pedimos licença aos grandes mestres que criaram danças inigualáveis, onde cada parte do corpo, dos pés aos olhos, se manifesta. Onde a expressividade do bailarino, a emoção, está em cada gesto, de um simples levantar de sobrancelhas ao mais intrincado trabalho de percussão com os pés. Onde as mãos traduzem histórias de infinita beleza e de significados tão universais que somos capazes de compreender mesmo sem grande conhecimento nessa arte.
Aqui, deixo minha contribuição com um pequeno resumo sobre as 7 danças clássicas da Índia. Hoje em dia, essas danças ainda sobrevivem graças ao árduo trabalho de grandes gurus, que não deixam a tradição morrer:
Bharatanatyam - Originária de Tamil Nadu, a Bharatanatyam pode ser considerada a mais tradicional das danças clássicas da Índia. O estilo foi resguardado por muitos séculos pelas devadassis, dançarinas templárias. No entanto, estava sendo esquecida quando, no início do século XX, foi resgatada, hoje se consolidando como uma dança clássica que saiu dos templos e chegou a todas as classes.
Bharatanatyam segue um padrão muito específico de apresentação, com repertório invariável que se traduz em 7 peças de dança (Alaripu, Jatiswaram, Shabdam, Varnam, Padams, Javalis e Tilana), abordando tanto os aspectos da nrtta (dança pura ou abstrata) como da nrtya (dança expressiva, onde há pantomima e relata-se histórias dos deuses), além do Mangalam, uma prece evocando a benção divina.
Odissi - Original do estado de Orissa, na costa leste da Índia. Em suas raízes, a dança odissi fazia parte dos ritos diários de adoração nos templos hindus, por uma classe de bailarinas chamada maharis. Desde o século XVII, com as invasões estrangeiras, a prática ritual da dança odissi passou a ser menos comum, o que transferiu a dança dos templos para os palácios. Uma nova classe de bailarinos nasce então: os gotipuas eram meninos que se transvestiam de meninas para realizar apresentações de odissi nas praças públicas, popularizando assim essa forma de dança, que trabalha com os movimentos de forma bastante escultural, inspirados na arte templária hindu.
Odissi é uma das mais antigas e completas formas de dança indiana, trabalhando com a nrtta e a nrtya, e tendo como referência as energias complementares simbolizadas na dança pelas duas posturas fundamentais, a chowka, posição angulosa que representa a energia masculina e a tribhanga, mais graciosa, simbolizando a energia feminina.
Kathak - Kathak é uma dança tradicional hindustani, originário do norte da Índia, que trabalha com uma rica técnica de trabalho dos pés. Baseando-se na dança pura e abstrata, cria diversos e intrincados padrões rítmicos usando para tanto a batida alternada dos pés no chão, reavivados pelos guizos atados nos tornozelos dos bailarinos.
A dança ganha vigor e velocidade no decorrer da música, culminando numa seqüência de giros. A recitação de sílabas rítmicas (conhecidas como bols ou talams) é comum nesse estilo. O bailarino recita os bols no ciclo métrico escolhido e, em seguida, representa a mesma seqüência por meio dos pés. Isso serve também para indicar aos músicos como deve ser realizado o acompanhamento ao trabalho do bailarino, criando um verdadeiro diálogo entre os músicos e os bailarinos.
Katakhali - da região de Kerala, a dança Kathakali é uma tradicional forma de dança-teatro. Os movimentos da dança retratam a influência de antigas artes marciais da região, além de um grande detalhamento com o uso das diferentes partes do corpo, principalmente os músculos faciais, a sobrancelha, os olhos e pálpebras. Acompanhado de um ritmo contagiante, a dança é recheada com giros e muita interpretação, onde os bailarinos interpretam heróis, demônios, guerreiros, além das deidades hindus.
Uma característica marcante dessa dança é o uso de uma maquiagem específica: verde é a cor do herói; bigodes e nariz protuberante são características do demônio-guerreiro, maquiagens com predominância da cor preta representam os moradores da floresta ou os demônios femininos, etc.
Mohiniattam - Originária do estado de Kerala, essa dança antigamente era representada apenas por homens, sendo hoje em dia reservada apenas às mulheres, explorando, pelos movimentos da dança, a graciosidade e sedução da essência feminina.
Monihiattam funde o aspecto gracioso da Bharatanatyam (Lasya), com técnicas teatrais da dança Kathakali, com movimentos suaves, ondulantes, lembrando os movimentos do mar ou de folhas ao vento, com grande destaque ao trabalho de olhos e mãos.
Manipuri - Originaria de Manipur, região de localização geográfica afastada, a dança Manipuri não recebeu influência estrangeira, mantendo assim um estilo puro e ritualístico, abordando tanto o aspecto vigoroso (Tandava) quando o gracioso (Lasya) da dança, com expressividade natural e uma boa dose de lirismo. Com um vasto repertório de peças, os dançarinos muitas vezes acompanham a dança tocando instrumentos de percussão como címbalos ou o pung cholom (instrumento de percussão típico da região).
A dança Manipuri também tem um repertório que se associa à arte marcial, com o uso de espadas, lanças e escudos como acessórios de dança, simbolizando cenas de lutas, que mostram um intensivo treinamento e controle corporal, surgido desde os tempos em que a dança representava a necessidade dos habitantes da região de se defenderem de animais selvagens, e da necessidade da caça para a subsistência da população da região.