25 abril 2008
Ibirá na Índia - Parte 15 - Final
(Por do sol e skyline em Mumbai)
(Victoria Terminus, estação de trem construída pelos britânicos em Mumbai)
(Gateway of India, construído para receber o rei George V do Reino Unido, no início do século XX)
Namaste priy doston!
Hoje, após quase três meses do primeiro relato, encerrarei minha participação no blog da Sandra, o melhor e mais completo blog sobre a Índia em português!
Terminei o último depoimento partindo para Mumbai. Pois bem, eu e o amigo do Sankalp, Ravidas, chegamos às seis horas da manhã na maior metrópole indiana, que outrora havia me assustado. Pegamos juntos um ônibus de rua comum (eu com duas malas, fora a mochila) e Ravidas desceu alguns pontos antes do meu. Após descer ainda peguei um táxi para Colaba, bairro famoso por hotéis baratos para estrangeiros - e de fato o hotel (guest house) que fiquei estava lotada de estrangeiros. Colaba fica num local privilegiado por estar bem perto do centro histórico de Mumbai, o que poupa gastos com transporte já que dá pra visitar toda a área à pé.
No domingo, então, ainda de manhã, saí para andar. Embora Mumbai não me assustasse mais, um extremo desconforto estava presente - o calor e a umidade. Mal andei um quilômetro e já estava ensopado de suor. Até meus braços suavam, o que nunca vi acontecer em mim. Parei num local, na sombra, para tomar café da manhã. Comi duas samosas e tomei uma garrafa de um litro de água completa - e ainda na sombra eu não parava de suar.
Voltei para o hotel, tirei a roupa e fiquei um pouco debaixo do ventilador. Depois disso pus uma bermuda (pois estava de calça) e uma camiseta mais leve. Daí saí de novo para enfrentar o calor. Dessa vez, porém, não quis me torturar e peguei um táxi para ir ao Victoria Terminus, a pouco mais de dois quilômetros dali. Após ver o local, que é uma linda estação de trem feita pelos britânicos, não resisti e entrei no Mc Donald's em frente, já que era hora do almoço. Os motivos para eu entrar ali foram dois: eu não tinha a menor idéia de onde iria comer e no Mc Donald's tinha ar condicionado... comi meu Mc Veggie e me alonguei um pouquinho mais lá dentro, com a auto-desculpa de observar o povo indiano moderno de Mumbai. Curiosamente, porém, por volta das duas da tarde, não estava mais tããão absurdamente quente quando achei que deveria estar e meus braços não suavam mais!
Com o clima um pouco mais agradável, saí para andar de novo. Mais tarde um pouco, o Sankalp me ligou insistindo para que eu fosse visitar o templo ISCKON (conhecido por Hare Krishna no Brasil) não muito longe de onde eu estava. Apenas andei mais um pouco vendo os prédios britânicos de Mumbai e depois fui ao ISCKON. Lá dentro, dois Hare Krishna vieram conversar comigo. Era quase 17hs quando cheguei lá. A conversa começou apenas com o básico de sempre, mas entrou para assuntos mais filosóficos que tivemos que ir jantar enquanto conversávamos. Há um restaurante pago lá dentro, mas para os "monges" e "estudantes" Hare Krishna do templo há um outro local, no fundo, com comida mais simples, de graça para eles. Me levaram lá para comer - no chão, e com as mãos.
Após a janta fomos ao templo propriamente dito, ou seja, o local com o altar e a imagem de Krishna. Estava ocorrendo um bhaja kirtan, que é um momento em que um grupo de músicos se reúne para tocar músicas devocionais, utilizando os melhores instrumentos clássicos indianos - o que faz já valer assistir só por isso. Havia muita gente. Soube que os músicos estavam tocando desde as 17hs sem parar e já eram 21hs, quando estava terminando. Quando acabou fui embora.
Na segunda feira a temperatura não estava insuportável. Krishna deve ter ouvido minhas preces e me deu um último dia de Índia um pouco mais agradável. Passei o dia andando de novo. Devo ter tomado uns quatro copos de caldo-de-cana, reabastecendo-me de líquido e calorias... é muito comum ter barraquinhas de caldo-de-cana nas esquinas. Um copo custa cinco rúpias, o equivalente a R$0,25. À noite, na hora da janta, não resisti de novo e dessa vez comi no Subway. Mas dessa vez houve um motivo especial para esta decisão. No post que a Sandra fez com fotos minhas me reabastecendo, houve um comentário do Pedro falando do sanduíche do Subway; quando vi que tinha um bem pertinho do meu hotel fiz questao de ir lá - essa foi pra você Pedro!
Depois disso, fui ao hotel - estava extremamente cansado e queimado (embora eu passasse protetor solar o suor tirava em seguida...). Eram umas nove ou dez da noite, mas eu já queria dormir. Quando entrei no hotel o cara da recepção me chamou e, baixinho, perguntou o seguinte, em inglês: "Um cara lá em baixo te viu e pediu para eu falar com você quando você chegasse... você quer fazer uma ponta em Bollywood?". Confesso que adorei a pergunta e estava até esperando por isso, pois a Sandra havia me dito que isso poderia acontecer em Colaba. Mas....... eu estava realmente cansado, e queimado. A gravação seria durante a madrugada e eu ganharia 500 rúpias (cerca de 25 reais). Fiquei bem tentado, mas disse que eles tinham que ter me chamado na noite anterior e agradeci. Essa ficou realmente pra próxima!
Na manhã seguinte logo cedo fechei a conta no hotel e fui ao aeroporto. De última hora ainda encontrei mais um amigo indiano que foi ao aeroporto me visitar, pois não tivemos tempo de nos conhecer antes. Ele me disse que da próxima vez ele tirará dois dias de folga para me levar pra conhecer realmente Mumbai, e não só o centro histórico. Parece que terei que voltar um dia para lá, não só para conhecer melhor a cidade que não mais me assusta, mas também para aparecer em Bollywood!!!
Ainda do avião vi a cidade do alto e disse tchau para o país que tanto me acolheu e tanto me enganou. No final das contas já queria mesmo voltar para ter um pouco de paz de espírito - ser estrangeiro na Índia não é fácil. Não é simples ter de preparar a mente toda a vez que sai para a rua para brigar com o motorista do auto-riquixá, para brigar com os vendedores, para tolerar ser olhado e fotografado por todos os lados, ser abordado o tempo todo, ouvir histórias que podem ser verdade ou não... já estava sentindo falta de sair na rua sem me preocupar - e olha que moro em São Paulo!... mas confesso, a Índia fascina e vicia depois que você pega o jeito e, como já dei a deixa, eu quero voltar um dia, sim...
Por hora, despeço-me da Índia e despeço-me também de todos vocês, que me acompanharam desde o começo, viajando comigo, ainda que não sentindo na pele, mas tendo sensações curiosas que foram, na medida do possível, compartilhadas em comentários. Agradeço, sinceramente, a participação de todos e, sobretudo, agradeço à Sandra por ter aberto esse espaço para essa troca.
Bahut bahut dhanyavad!
Om Shanti Om
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