Princesa em Bollywood, esperança em Hollywood
Por ANUPAMA CHOPRA
MUMBAI - Em outubro passado, Aishwarya Bachchan se deparou com uma escolha difícil. A estrela de Bollywood poderia ficar em Los Angeles para concorrer a um papel principal no novo filme de Will Smith, "Seven Pounds", ou voltar para casa em Bombai para celebrar o Karva Chauth, um jejum cerimonial de um dia que as mulheres casadas hindus observam como uma prece pela vida e saúde de seus maridos. (A observância desse costume é nova para Bachchan; ela se casou em abril com o ator Abhishek Bachchan, filho do astro de cinema indiano Amitabh Bachchan, uma união que levou a revista Time a descrever o trio como "Bollywood's Father, Son and Holy Babe", algo como "O pai, o filho e a estrela santa de Bollywood").
Por fim, Bachchan escolheu voltar para Bombai e passar fome com um sorriso. Os canais de TV nacionais deram manchetes para a cobertura do primeiro Karva Chauth da atriz. Dois meses depois, ela encolheu os ombros durante uma entrevista ao falar sobre a oportunidade perdida em Los Angeles. "Você faz o que tem de ser feito", disse ela. "Ficar dividida e infeliz, me sentir confusa ou culpada não é o que eu quero para para mim. Então fazemos nossas escolhas e as seguimos. Algumas coisas você consegue, outras não."
Este mês Bachchan traz um pouco dessa clareza e tradicionalismo para um papel que ela nasceu para intepretar: o da rainha Jodhaa, no suntuoso drama histórico "Jodhaa Akbar". O filme de US$ 10 milhões é uma das maiores produções de Bollywood este ano. Foi lançado mundialmente na sexta-feira, em mais de 115 cinemas só nos Estados Unidos, transformando-se na maior estréia americana de um filme indiano em toda história.
"Jodhaa Akbar" tem como tema o dilema quintessencial dos indianos: o casamento arranjado. Passado no século 16, o filme explora o casamento entre o grande imperador mongol Akbar, um muçulmano, e sua esposa hindu Jodhaa.
Os historiadores descrevem a união como uma aliança política, mas nas mãos do diretor do filme, Ashutosh Gowariker, a história se transformou em "um romance épico com uma boa dose de batalhas, política de harém e intrigas", disse ele em uma entrevista por telefone. Gowariker, cujo filme de época "Lagaan: Era uma Vez na Índia", lançado em 2001, foi indicado para um Oscar por melhor filme estrangeiro, não pretende que o filme seja acurado do ponto de vista factual, mas insiste que está "imbuído de verdade histórica".
Ele escolheu Bachchan para interpretar a rainha porque, segundo ele, "Aishwarya é uma princesa de quadrinhos com um ar de dignidade, elegância e pureza". Para o papel de Akbar, Gowariker queria alguém com "o físico de um guerreiro e o rosto de um herói romântico", e escolheu outro superastro de Bollywood, Hrithik Roshan.
Gowariker diz que conseguiu um elenco dos sonhos, o que, pelo menos no que diz respeito ao apelo de bilheteria, parece correto. Ambos os atores, roubando a frase que Pauline Kael inventou para descrever Michelle Pfeiffer, são "paradisiacamente belos", além de astros consagrados. Com suas feições etnicamente indetermináveis e inglês impecável, Bachchan e Roshan podem se tornar os primeiros astros indianos internacionais.
Bachchan já fez um progresso considerável nesse sentido. Ela é a garota-propaganda internacional da L'Oreal e da Longines, além de ser uma presença glamourosa constante no Festival de Cinema de Cannes; em 2003 ela se tornou a primeira atriz de Bollywood a participar do júri. Em 2004, entrou para a lista das 100 pessoas mais influentes do mundo da revista Time.
Até agora os projetos internacionais de Bachchan - "Bride & Prejudice", "The Mistress of Spices" e "The Last Legion" - causaram rebuliço de crítica e bilheteria, mas com seu casamento bem-sucedido, campanhas de marcas de primeiro escalão, e com os melhores projetos de filmes indianos, ela continua ganhando a atenção internacional.
Smith, que queria convidá-la para trabalhar em "Hitch", mas não pôde por causa dos conflitos de agenda, continua um admirador ardoroso. "Ela tem uma energia poderosa com a qual não precisa dizer nada, fazer nada, ela só precisa estar ali", disse o ator durante uma entrevista à BBC em fevereiro de 2006. "Qualquer coisa que ela fizer, eu vou assistir".
Em breve Bachchan poderá ser vista em "A Pantera Cor-de-Rosa 2", em que o inspetor Clouseau, interpretado por Steve Martin, se reúne a uma equipe de detetives internacionais para capturar um ladrão com uma queda por artefatos históricos.
Seu coadjuvante em "Jodhaa Akbar", Roshan, de 33 anos, rejeitou um papel no mesmo filme por se tratar de um papel menor.
Numa entrevista em Bombai, Roshan deixou claro que apesar de estar "tentando Hollywood com afinco", não vai "fazer um filme só porque é Hollywood."
Hollywood e Roshan estão flertando desde que ele estourou em Bollywood com o filme "Kaho Na Pyar Hai", em 2000. O filme, dirigido e produzido por seu pai, Rakesh Roshan, foi muito bem nas bilheterias e catapultou o ator novato para o status de superastro na Índia.
Em 2002, a edição americana da revista de cinema GQ publicou um perfil dele intitulado "A pessoa mais famosa da qual você nunca ouviu falar", e rumores de um projeto com Tarsem Singh, o diretor de "A Cela", nascido na Índia, e com Jennifer Lopez, rodaram por toda imprensa indiana. Mas o projeto não aconteceu, assim como uma série de outras propostas que, por razões diversas, Roshan descartou. Todavia, em outubro passado ele deu o primeiro passo concreto na direção de uma carreira em Hollywood, assinando um contrato com a Brillstein Entertainment Partners em Los Angeles.
Apesar de seu estrelato global (Bollywood tem uma audiência anual estimada em 3,6 bilhões em todo o mundo), não será fácil para Bachchan e Roshan entrarem em Hollywood. As duas indústrias cinematográficas estão fazendo alianças (no ano passado a Sony Pictures Entertainment lançou sua primeira produção em hindi, "Saawariya"), e alguns nomes indianos como Mira Nair, Kal Penn e Shekhar Kapur estão diversificando a paisagem de Hollywood. Mas ainda assim, por diferentes motivos, nenhum ator conseguiu fazer a transição de Bollywood para Hollywood com sucesso.
As agendas e expectativas são dificilmente conciliadas. As estrelas de Bollywood normalmente não querem atuar em papéis secundários nos filmes americanos, e simplesmente não há muitos filmes feitos em Los Angeles com indianos nos papéis principais.
"Você não quer sacrificar seu próprio reinado para se aventurar em outro lugar", disse Gowariker. "No entanto, um astro só pode ser internacional se for em língua inglesa."
Se Bachchan e Roshan conseguirem cruzar a fronteira, poderão se tornar os astros mais à moda antiga de Hollywood. Até se casar, aos 33, Bachchan (agora com 34), morava com os pais, fato que tanto Oprah Winfrey quanto David Letterman notaram quando ela apareceu em seus programas em 2005. ("Pelo menos não precisamos marcar uma data para jantar com nossos pais", ela respondeu alegremente a Letterman.) Agora que está casada, Bachchan mora com seu marido na casa dos pais dele em Bombai segundo a tradicao indiana.
Já Roshan, é casado com seu amor de infância. Eles tem 2 filhos, e também continuam morando com os pais dele.
Diferentemente de Bachchan, Roshan ainda precisa encontrar um filme hollywoodiano que combine com seu gosto e sua agenda. Atualmente ele está "quebrando o gelo", o que significa que está lendo dois roteiros por semana e dando retorno para seus agentes em Hollywood, para que eles possam "se conhecer melhor".
Ele disse estar esperançoso de que "Jodhaa Akbar" seja um primeiro passo para expandir a base tradicional de fãs de Bollywood, e a UTV Motion Pictures, co-produtora e distribuidora mundial do filme, está fazendo de tudo para ter certeza de que isso aconteça. Trailers do filme foram lançados mundialmente desde setembro.
"É claro que estamos contando com os espectadores do sul da Ásia", diz Siddharth Roy Kapur, diretor da UTV, em uma entrevista por telefone. "Mas este é o filme perfeito para qualquer um que tenha curiosidade sobre Bollywood. Ele tem dimensão, astros, drama, música e dança."
Tradução: Tradução: Eloise De Vylder
Incredible India!
Om Shanti