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04 junho 2007

Autobiografia de Gandhi - Parte 10


04/06/2007
Lula, o presidente do Brasil está aqui na Índia, ele chegou ontem e ficará até amanhã.
A agenda dele está superlotada e desta vez ele veio com um grupo grande de acessores e empresários, cerca de 200 pessoas.
Eu contarei a parte cultural da visita do presidente Lula a Índia, aguarde.....
Continuando com a autobiografia de Gandhi....

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No capítulo LAKSHMAN JHULA Gandhi explica que inicialmente usava o shikha mas antes de ir para Londres resolveu corta-lo, no entanto, anos mais tarde resolveu deixar crescer novamente.
Shikha para quem não sabe é um tufo de cabelo comprido na parte de trás da cabeça que os brâmanes usavam naquela época. O pessoal da Iskcon usa até hoje.
Gandhi conta também que depois que sua primeira kanthi quebrou, nunca mais voltou a usar e não quis repor por uma nova mesmo com familiares e amigos pedindo e pressionando para que a usa-se pois era Brâmane.
Ainda neste capítulo Gandhi conta sobre sua viagem as cidades sagradas e sujas de Hardwar e Rishikesh. Ele critica sem piedade o comportamento antigenico da população e ficava agonizado em ver as pessoas cagando nas margens do sagrado rio Ganges. (o mesmo rio em que eles tomam banham e bebem a água “sagrada”)

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Gandhi sendo um Gujarati preferiu fundar seu ashram em Ahmedabad, no estado de Gujarat, assim o ashram Satyagraha foi fundado em 25 de maio de 1915 em Ahmedabad e existe até hoje. A Roberta em um de seus relatos para o blog em 2006 conta que foi visitar o ashram de Gandhi.
O ashram começou com 25 pessoas entre homens e mulheres, sendo 13 tamilianos (do sul da Índia). Os indianos do norte não gostam muito dos do sul. Eles os chamam de macacos por causa de Hanuman, por serem mais escuros e por serem da cultura dravidiana ao invés da ariana como no norte da Índia. .
No entanto Gandhi aceitava a todos. A coisa ficou séria mesmo quando Gandhi aceitou uma família de intocáveis para morar no ashram. As próprias pessoas do ashram não queriam conviver com intocáveis com medo de se “contaminarem”, e os amigos de Gandhi que pagavam as despesas do ashram pararam de pagar e o boicotaram. Os indianos há 80 anos atrás, não deixavam nem que sua sombra “tocasse” a sombra de um intocável. Era uma paranóia geral.
No dia em que Manganlal informou ao pai que não havia mais fundos para o próximo mês Gandhi disse que então preferiria ir morar na favela com os intocáveis. Poucos dias depois, Gandhi recebeu uma ajuda financeira de 13 mil Rúpias, o que dava para cobrir as despesas do ashram por 1 ano inteiro!!

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No capítulo EM CONTATO COM O TRABALHO Gandhi expõe suas idéias quanto a proteção da vaca (animal). Segundo ele, “cow protection includes...” reprodução, melhoria do rebanho, tratamento humanitário dos animais, formação de leiterias, etc.
“… bullock is still made to work beyond his capacity, and the so-called Hindu still cruelly belabors the poor animal and disgrace his religion.” Simplesmente amo o modo como Gandhi era honesto e falava as verdades, do mesmo modo que procuro fazer no Indiagestão.
Neste capítulo ainda, Gandhi dá a fórmula para uma greve de sucesso, mas vocês não precisam da fórmula de Gandhi, basta seguir os passos do presidente do Brasil, pois sua fórmula foi tão bem sucedida que o levou a presidência da república por duas vezes consecutivas. “A luta continua companheiros”, quem consegue esquecer esta frase célebre?

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Após 21 dias de greve os donos dos moinhos e os trabalhadores entrarem em acordo. Para celebrar o fim da greve os donos de moinhos compraram muitos doces para distribuir para os empregados, mas como indianos não fazem fila, virou uma balbúrdia e uma quantidade enorme de doces foi ao chão causando desperdício.
É triste ver que até o dia presente, os indianos ainda não aprenderam a fazer ou respeitar filas. Gandhi, assim como eu, ficamos chocados com a falta de educação por parte dos indianos que furam fila, te empurram, te ignoram, te acotovelam e te jogam para o fundo se você não souber como agir agressivamente numa fila.

“Experience has taught me that civility is the most difficult part of Satyagraha.” A experiência me ensinou que civilidade é a parte mais difícil da Satyagraha.
E os indianos são incivilizados até hoje, nada mudou neste espaço de 80 anos desde a publicação da autobiografia de Gandhi. A economia da Índia pode estar em crescimento, mas a falta de civilidade continua a mesma.

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No capítulo PAIXÃO POR UNIDADE Gandhi deixa claro como para ele não havia divisão entre hindus e muçulmanos. Ele tentou aproximar-se dos muçulmanos e unir todos na luta pela independência.
Na Faculdade muçulmana de Aligarth, Gandhi num discurso, pediu aos jovens islâmicos que se tornassem fakirs pelo bem da terra natal. E concluiu que “… there was no genuine friendship between the Hindus and the Musalmans.” Não havia amizade sincera entre hindus e muçulmanos.

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Este capítulo, A BEIRA DA MORTE, é muito traumático para mim pois me faz reviver minhas próprias experiências com indigestão e diarréia devido a comida indiana; e não é por coincidência que meus dois blogs chamam-se Indi(a)gestao e (In)diarréia. Enfim, neste capítulo, Gandhi descreve em detalhes sua diarréia e como quase morreu por sua causa.

Em 24 horas ele foi 40 vezes ao banheiro, teve febre, dores intestinais descomunais, delírios devido a febre, tremor etc. Quando o médico decidiu dar-lhe uma injeção ele recusou e confessa “My ignorance about injections was in those days quite ridiculous.” Minha ignorância em relação a injeções era bem ridícula naqueles tempos.
“I felt that I was at death’s door.” Ele sentia que estava a beira da morte. Foi um médico membro do Brahmo Samaj, Dr. Kelkar que salvou a vida de Gandhi com o “...ice treatment...” o tratamento consistia na aplicação de gelo por todo o corpo. Após alguns dias de tratamento com gelo, Gandhi se recuperou da temível infeção intestinal indiana.
Gandhi conta até que teve hemorróidas devido a diarreia, aguda e descreve “...my anal tract had become extremely tender, and owing to fissures I felt an excruciating pain at the time of evacuation...”
Se os próprios indianos sofrem até hoje desta terrível diarréia indiana, imagine nós ocidentais. Haja antibiótico!!
E mais uma vez, após a diarréia, a fim de se fortalecer, Gandhi volta a beber leite.
Esta coisa de beber leite, não beber leite foi uma questão muito mal resolvida para Gandhi. Seu lado racional o obrigava a parar de beber leite, mas o lado emocional sempre o fazia voltar a beber. 

FOTO: Gandhi almoçando com o Guru Sri Sri Paramahansa Yogananda.
Observe bem esta foto pois ela retrata bem o cotidiano indiano onde as pessoas comem no chão usando bandejas de metal no lugar de pratos. No sul da Índia usa-se folhas de bananeira no lugar de pratos. Assim como se come no chão, também cozinha-se no chão. A comida é levada a boca somente com a mão direita, sem o auxílio de talheres (garfo ou colher). Enquanto os outros comem sentados, Gandhi come agachado; veja como seu joelho está praticamente na altura do pescoço. Para saber mais sobre o Guru Paramahansa Yogananda leia “Autobiografia de um Iogue” este livro foi o responsável pela minha vinda a Índia.

Continua amanhã....
Om Shanti


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01 junho 2007

Autobiografia de Gandhi - Parte 8



01/06/2007

Continuando com a autobiografia de Gandhi....

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No capítulo PESTE NEGRA que ocorreu na África do Sul, Gandhi participou ativamente. Como a localidade aonde os indianos moravam era muito suja, ele temia que a peste negra pusesse se espalhar facilmente. Ele arrumou um local isolado onde levava os enfermos para evitar maior contaminação, mesmo assim, 21 pessoas morreram.

Gandhi aproveitou a oportunidade da Peste Negra para fazer seus experimentos com lama. Ele colocou 3 enfermos para fazer o tratamento de lama. 2 sobreviveram e 1 faleceu. Isto lhe deu mais crença no poder da lamaterapia.

Quando seu filho Ramdas quebrou o braço, Gandhi o tratou com lama.

Ele também acreditava que durante uma epidemia a pessoa deveria ter uma dieta leve.

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COMUNIDADE PHOENIX. Este capítulo é particularmente interessante pois trata da primeira comunidade alternativa criada por Gandhi. Você já deve ter ouvido falar das comunidades hippies dos anos 70, comunidades onde todos faziam tudo e dividiam tudo, voltada para a auto-suficiência e o artesanato; pois bem, foi isso que Gandhi fez ao criar a comunidade Phoenix.

Gandhi, sua família, amigos e conhecidos com suas famílias mudaram-se para uma fazenda de 20 acres de terra que compraram, onde também imprimiam artesanalmente o jornal Indian Opinion. O inicio da comunidade alternativa de Gandhi foi 1904, muitos anos antes dos hippies copiarem a idéia.

Eles plantavam, imprimiam o jornal e faziam tudo a mão, não queriam usar máquinas, queriam tudo feito artesanalmente inclusive o jornal. A comunidade cresceu e acabou virando uma vila.

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Gandhi reafirma novamente na metade do livro que não quis que seus filhos estudassem ou aprendessem inglês e que não se arrepende de sua decisão embora os filhos se ressentissem com ele a este respeito. “I am not heartbroken over it, and the regret, if any, is that I did not prove an ideal father.”

Na minha opinião ele não foi nem bom pai e muito menos bom marido. Sua mente estava sempre ocupada com o bem estar dos outros e negligenciou a família. Mas como atingir grandes objetivos se si esta preso a família??? Todos os líderes espirituais que eram casados acabam por neglicenciar a família ou simplesmente a abandonam.

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Durante a REBELIAO ZULU Gandhi também participou. Ele gostava confessadamente de participar de batalhas. Inicialmente Gandhi ficou do lado dos ingleses e depois passou para o lado dos Zulus. Aqui também ele mudou de opinião.

Sua participação nas guerras era sempre como enfermeiro ou coletando os feridos para tratamento. “The Zulu rebellion was full of new experiences and gave me much food for thought.” Esta rebelião com novas experiências fez Gandhi pensar em muitas coisas em que não havia pensado anteriormente.

Gandhi tinha algo de Madre Teresa de Calcutá e gostava de atuar como enfermeiro cuidando dos enfermos.

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No capítulo NASCIMENTO DA SATYAGRAHA Gandhi explica como foi necessário criar um nome para o movimento de resistência passiva. Ele anunciou no jornal Indian Opinion uma pequena gratificação a quem criasse um nome que representasse bem os ideais do movimento. O vencedor do concurso foi seu próprio filho Manganlal com o nome Sadagraha (Sat = verdade e Agraha = firmeza). Para que não houvessem dúvidas quanto ao nome, Gandhi preferiu usar “Sat” ao invés de “Sad” (uma derivação). Assim o nome oficial do movimento passou a ser Satyagraha.

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1908 foi a primeira vez que Gandhi foi preso. Na cadeia a comida não tinha sal e a última refeição era antes do por-do-sol. Também não era servido chá (paixão nacional indiana) e Gandhi quando saiu da prisão resolveu continuar com estes hábitos. Ficou 10 anos sem por sal na comida e parou de tomar chá. Seu jantar era sempre antes do por-do-sol.

Em 1912 Gandhi também parou de beber leite pois “milk stimulated animal passion.” era afrodisíaco. Não comer alimentos afrodisíacos é um dos métodos que ele usou para manter o voto de castidade (Brahmacharya).

Após algum tempo Gandhi passou a alimentar-se somente de amendoim, banana, tâmara e óleo de oliva, enquanto continuava praticando jejums periódicos.

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No capítulo JEJUANDO Gandhi explica que os hindus só podem comer frutas e tomar leite no dia do jejum, mas como ele já fazia isso regularmente, ele resolveu beber somente água nos dias de jejum.

Gandhi praticava o jejum Ekadashi (4 dias antes da lua Nova e da lua Cheia) e o Pradosha (durante todo o mês Shravan a pessoa não deve comer nada durante o dia, podendo comer só a noite). Aqui me surgiu uma dúvida, se Gandhi comia sua última refeição ANTES do por do sol, o que ele fazia durante o mês de Shravan quando só se pode comer a noite??? Creio que ele apesar de masoquista não ficava o mês todo sem comer e abria uma exceção durante este mês alimentando-se após o por do sol.

FOTOS: Gandhi com roupas do movimento Satyagraha e Gandhi jejuando

Continua amanhã...

Om Shanti

02 outubro 2006

Dengue & Jain


Nâmaskar

A Incredible India não se cansa de me surpreender, desta vez com 34 pessoas internadas com dengue. Mas qual a novidade desta notícia? A novidade é que estas 34 pessoas contraíram dengue no mais famoso e conceituado hospital de Delhi, o AIIMS e uma acaba de morrer.

Estudantes de medicina, catedráticos, médicos, residentes, enfermeiros em fim, o mosquitinho não poupa ninguém no AIIMS!! Todos estão internados no próprio hospital onde foram picados e contaminados por Dengue.
Quem iria imaginar que no hospital há uma grande proliferação do Aegis ? Foi surpresa geral para todos. Agora o que fazer? Como detetizar um complexo hospitalar gigantesco com pacientes internados?

O AIIMS é o correspondente ao Hospital das Clínicas no Brasil. Um hospital-escola-pesquisa. O hospital é referência e orgulho da Índia.

Haja repelente!!!!

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Uma senhora Jain com câncer resolveu jejuar até morrer. Após 2 semanas de jejum ela faleceu na sexta-feira passada. Esta é uma prática antiga entre os jainístas (praticantes do Jainísmo, uma das muitas religiões que tem aqui na Índia).

A mídia está querendo saber por que o governo não fez nada para salva-la, não lhe deu soro ou alimentação intravenosa.

Os defensores dessa prática dizem que era um direito dela escolher se queria viver ou morrer e que esta prática é comum entre os jainistas.
O governo não interferiu pois a Índia é o maior país democrático do mundo onde a pessoa tem livre escolha de expressão religiosa.

A mídia mais uma vez indaga por que esta prática se dá somente entre as mulheres jains e não entre os homens? E ela mesma responde dizendo que é porque a mulher doente dá despesa e é considerada um estorvo, sendo assim, ela prefere morrer a dar trabalho e despesa para a família. (Mulher nada vale neste país).

Esta discussão vai longe ... mas nada de pessoal tenho a acrescentar pois desconheço os princípios desta religião.

Só sei que são vegetarianos extremados e radicais. Andam com máscara na boca o tempo todo para não engolirem nenhum bichinho. E vi os homens jains peladões (totalmente nus), com a máscara no rosto e penacho de pena de pavão na mão andando pela avenida principal aqui em Delhi, sem o menor pudor.

Os indianos gostam mesmo é de leque de pena de pavão.
Eu acho lindo mas nunca tive coragem de comprar um pois essa ave antigamente tão abundante, agora só sobrevive graças a reservas florestais do governo.

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Ontem foi dia de eleição e fui votar na embaixada do Brasil aqui em Delhi.
Por serem pouco mais de 50 brasileiros que aqui votam, o lugar estava vazio e consequentemente sem nenhuma fila. Espera Zero :-)

Para tão poucos eleitores, naturalmente não havia urna eletrônica.

Recebi um papelzinho amarelo (cédula de votação) onde havia um retângulo no meio para que se escrevesse o nome do candidato. Depois dobra-se o papel e coloca-se na urna.

Os brasileiros que residem fora do país votam somente para presidente da república. Não se vota para senador, deputado, governador etc.

Nem adianta me perguntar “votou certo?”, claro que votei certo, votei no ENEAS!!!!! Hahahahahahahahaha :)

Embora não more no Brasil há anos, nunca tive coragem de desperdiçar meu voto. Nunca votei em branco ou anulei meu voto, e tenho orgulho disso. Espero sinceramente que você tenha feito o mesmo.

Incredible India! (slogan oficial do governo indiano)

OM Shanti