06 abril 2006

Renato na India

Nâmaskar

Segue abaixo relato de viagem do nosso querido Renato Brás.

Olá Sandra, tudo bem ?

Já estou de volta ao Brasil e depois de reorganizar tudo pude colocar também em ordem meus sentimentos sobre a Índia.

Minha viagem não foi igual a da Roberta, pelo contrário tudo transcorreu muito bem, mas gostaria de deixar aqui minhas impressões.

Minha chegada em Delhi foi umas das mais diferentes que tive na vida, depois de descobrir que o meu transfer não aparecera resolvemos, eu e meu amigo, pegarmos um "taxi".
A negociação já foi confusa, assim como o aeroporto abarrotado de pessoas esperando por familiares, turistas etc...

Depois de um preço exorbitante e muita negociação até o preço justo seguimos em direção ao carro onde assim que entro e olho para o lado vejo nada mais do que uma pessoa fazendo na "boa" suas necessidades. Aquilo de cara foi um choque, mas enfim estava na Índia e já tinha lido bastante sobre vários costumes indianos.

Trânsito complicado até o hotel, sem regras e apenas muita buzina chegamos ao famoso bairro de mochileiros, Karol Bagh.
Deixando de lado qualquer coisa que possam achar de mim, ou até mesmo comentarem que moro em um país de 3° mundo e que tenho a miséria muito próxima, Karol Bagh me assustou. Sujeira, esgoto a céu aberto, muita gente dormindo na rua, ruas empoeiradas...disse "Chegueiem uma favela brasileira", parei para pensar e renovei meu pensamento "aqui começa mais uma aventura a la Indiana Jones".

Delhi é uma metrópole que para mim não chegou a ser caótica mas que não me agradou, achei-a abandonada. A famosa CP, o Indian Gate, a parte cívica da cidade, tem sua beleza mas acho que deveria ser mais cuidada.

Andamos de metrô (por sinal moderníssimo), auto-rikshaw, a pé, enfim devoramos Delhi no 1° dia. Tudo a preço de banana !!!

Mas nossa viagem pela Índia começaria mesmo no dia seguinte, já com uma confusão na recepção do hotel que jurava que o transfer tinha ido nos buscar no aeroporto, não pagamos mas tivemos a nítida certeza de que fomos enganados no valor dado por eles para levar-nos até a estação de New Delhi, aliás não achei os indianos simpáticos, na verdade o que conta para eles é o que você vai pagar, isso tirou, para mim, um pouco do brilho de toda a "espiritualidade".

Enfim, estação de trem, gente dormindo por todos os cantos, gente querendo levar vantagem em tudo, dizendo que seu bilhete está errado e que podem te levar em uma loja para endireitar...(toda atenção é pouca, isso é um velho golpe), mais gente fazendo "coisitas fisiológicas" próximo a estação e lá estávamos nós na 1ª classe (do século XIX) do trem com destino a Jaipur-Rajastão.

Nosso vagão era praticamente só de estrangeiros, tudo muito cordial e um serviço de bordo prá lá de engraçado, relaxei e comecei a observar uma Índia Rural, mágica pelas cores e triste pela miséria.
A cada cidade, vila, casebre, plantação que o trem rasgava minha mente trabalhava, sem saber se estava emocionado ou com raiva da miséria do mundo.

A cidade de Jaipur realmente pulsa. Saris, vacas, camelos, gente, muita gente nas ruas e um comércio intenso. Eu estava inserido na Índia, foram 3 dias de muita descoberta e paisagens maravilhosas. A única coisa que continuava a me incomodar, desde Delhi, era a sujeira e a falta de higiene da população (limpadores de ouvido, vendedores de dentaduras, tudo a céu aberto e a escolha do cliente que pode inclusive testar para ver se a dentadura cabe na boca, ruas sujas, esgoto a céu aberto..) Jaipur a cidade Rosa é realmente a cara da Índia.

De Jaipur seguimos para Agra, 5 horas de trem e chegamos na cidade mais feia que já vi na minha vida, além de caótica e imunda nos presenteia apenas com o Taj Mahal e o Forte, no mais tudo é muito tumultuado, sem opções.

O Taj Mahal é realmente uma maravilha do mundo, lotado de turistas e também de Indianos, causa um impacto e admirá-lo nunca é demais. Apenas um dia é necessário para esta cidade e de lá nossa etapa mais engraçada da viagem, a ida para Varanasi.

A viagem que duraria 10 horas conforme o staff do trem durou simplesmente 16 horas e a classe para turistas era um vagão imundo, com cortinas de plástico azul cintilante de banheiro, dividia as cabines, para 4 pessoas cada.

Foi uma festa, todos os turistas se conheceram, troca de biscoitos, frutas... a cada parada do trem (ele parava mais do que caminhão de lixo na hora da coleta) todo mundo descia, tirava fotos e contava suas aventuras pela Índia, gente que estava a mais de 6 mêses rodando pelo país, velhos, jovens, senhores Europeus com todo aquele ar blazê, assim como mochileiros franceses "tô nem aí", foi divertidíssimo. Imagina dormir neste trem, quando passei a mão no meu "colchão" ela sai preta, preta, preta.

Varanasi, a cidade sagrada tem lá sua magia, mas não me emocionou, achei bonita a fé mas todo comércio em volta da gente tentando tirar dinheiro tira o brilho, como já disse anteriormente, não achei o Indiano simpático e talvez seja apenas uma implicância minha.

O Rio Ganges e seus rituais levam a beira do rio muita gente, turistas Zen, turistas japoneses e suas cameras ultra-modernas, jovens, indianos de outras cidades, pessoas que esperam a morte nas galerias que levam ao ganges, vacas, sujeira, corpos a serem cremados, enfim algo que todo mundo deveria ver um dia. Varanasi tem 5000 anos e lá também se encontra o local onde Buda fez seu primeiro sermão.
Passamos dois dias por lá e voltamos a Delhi para nossa conexão com destino a Alemanha.

Ficamos sabendo que duas bombas explodiram no dia seguinte que saímos de Varanasi, ferindo vários turistas, inclusive uma na estação de trem , no horário do trem para Delhi. Escapamos por 24 horas.

A saída de Delhi é uma novela mas isso é uma história a parte, apenas para encurtar foram 3 horas da porta do aeroporto até o embarque (4 revistas)... mas isso depois eu conto.

Estarei em breve colocando em um fotoblog as fotos desta viagem que sem sombra de dúvidas nos deixou marcados de uma forma positiva ou negativa.
Abraços,
Renato Brás
Renato