23 abril 2008
Ibirá na Índia - Parte 14
( Nos fundos da universidade em Ashta, casas extremamente simples de agricultores familiares)
( A rua em frente à casa em que mora Sankalp e seus amigos, em Ashta)
Namaskar!
Finalmente contarei como foi minha última semana na Índia! A Sandra acaba de me liberar para escrever, agora que a situação melhorou, graças a Deus. Este relato, embora esteja sendo publicado quando eu já estou de volta ao Brasil, foi escrito em papel na minha última noite de Índia, do dia 14 ao 15 de abril, em Mumbai. Mas para alegria geral, ele não será o último! Meus escritos sobre minha última semana de Índia tiveram que ser divididos em dois relatos, então encerrarei minha participação no blog da Sandra no Ibirá na Índia - Parte 15.
Bom, vamos lá. Na terça-feira, dia 8 de abril, peguei o trem na New Delhi Station, às 17hs, rumo a Mumbai. Estava deixando a capital política indiana para chegar na capital financeira, 23 horas depois. Sim, vinte e três horas dentro de um trem indiano. Justamente por isso, eu estava torcendo para que as pessoas que ficassem no meu "nicho" no trem fossem no mínimo, digamos, comunicativos. No entanto, embora não fossem mal-caráteres, eles não falavam inglês... até tentaram se comunicar, mas o máximo de interação que tiveram comigo foi um doce que me deram. Enfim, fiquei lendo a maior parte do tempo.
Embora meus planos fosse ficar uma semana em Mumbai, meus amigos do começo da viagem - Sankalp e Pradeep - ao saberem que eu estaria relativamente perto deles mais uma vez, insistiram para que eu os revisitasse. Aceitei prontamente o convite, até porque uma semana de Mumbai seria exagero. Sendo assim, imediatamente ao desembarcar do trem em Mumbai parti para uma estação de ônibus, onde embarquei para Pune encontrar o Pradeep.
Cheguei lá por volta das 21hs. Pradeep encontrou comigo e fomos jantar num restaurante simples de comida do Rajastão (um lugar onde estrangeiro nenhum tinha ido e estavam todos felizes lá dentro). Comemos e fomos ao cinema assistir a um filme de Bollywood chamado Shaurya. Era em Hindi e sem legenda, então não entendia nada e o Pradeep ficava me falando as coisas mais importantes; mas deu pra perceber que o filme é sério e parece ser bom. Ele trata da questão da Cachemira e nem tem o tradicional song-and-dance de Bollywood. Ah sim, mas não posso esquecer de dizer uma coisa que aconteceu completamente inesperada e que ninguém nunca tinha me dito e nem sei se em toda a Índia é assim. Antes de o filme começar, mas após os trailers e comerciais, apareceu uma mensagem na tela e de repente todos levantaram. Levantei junto, claro, e eis que começa a tocar o hino nacional indiano! Somente após isso que o filme começou.
Bom, no dia seguinte o Pradeep me levou para conhecer a Universidade de Pune, uma das melhores da Índia e com o maior número de estrangeiros matriculados. Fomos até fuçar na secretaria para ver se há brasileiros ali, mas a resposta foi não... fomos inclusive visitar o pequenino departamento de geografia da universidade, onde me convidaram para fazer a pós-graduação, mas confesso que não fiquei muito animado, não...
Depois disso, no final da tarde, peguei um ônibus, novamente, rumo a Ashta, a cidade da faculdade do Sankalp. Para quem leu os meus primeiros relatos, eu havia ressaltado a questão do distanciamento entre garotos e garotas. Dessa vez, porém, houve uma sensível mudança. Enquanto eu estava em Delhi aprendendo a ser malandro, a faculdade do Sankalp promoveu uma excursão com os alunos e, graças a isso, garotos e garotas se enturmaram mais e eu percebi isso claramente. Ainda assim, por ordem da diretoria, na sala de aula os meninos ficam de um lado e as meninas de outro.
Fiquei três dias em Ashta com Sankalp e seus amigos. Não fizemos nada de especial, não fomos a nenhum outro lugar. Apenas vivi a vida de garotos indianos que estudam numa não reputada faculdade de engenharia, moram numa república e não têm muito o que fazer na cidade - Ashta não passa de uma vila rural, na verdade. Novamente eu estava na Índia tradicional, onde, diferentemente de Delhi e do que vi depois em Mumbai, os costumes e tradições da sociedade em volta falam mais alto, embora os estudantes sonhem em quebrar os costumes. Mesmo assim, a cerveja não faz parte do imaginário deles, ainda - no final da tarde, o famoso chá indiano. Num desses momentos de chá ocorreu uma coisa bem curiosa, quando começamos a filosofar sobre as religiões no mundo. O mais curioso nisso é que estávamos eu (a parte cristã da discussão, já que sou de um país cristão), Sankalp, que é hindu, e seu amigo Mushtaq, que é muçulmano. A conversa estava tão empolgante que tivemos que nos auto-interromper senão perderíamos a hora...
E sim, estando em Ashta, embora parte dos alunos da faculdade já me conhecessem, eu voltei a ser um completo ET. Dentro da faculdade eu tinha que parar a cada metro, pois toda hora vinha um estudante querendo saber quem eu era, por que estava ali etc... Um dos funcionários da faculdade, cuja esposa prepara marmita sob encomenda para os alunos, insistiu para que eu fosse à sua simples casa para tomar um café da manhã. Não recusei, claro, e na manhã seguinte fui a sua casa, realmente bem simples. Tomamos chá com biscoito, conversamos um pouco (ele não falava inglês direito, mas Sankalp estava junto e serviu de tradutor) e fomos embora.
Apenas para relembrá-los, enquanto estive em Pune e Mumbai com meus amigos eu revivi a vida indiana com tudo que tive direito. Ou seja... tudo aquilo que vocês já sabem em relação às refeições e ao uso do banheiro...
Bom, no sábado à noite, dia 12 de abril, peguei um ônibus para Mumbai, finalmente. Um dos amigos do Sankalp veio junto, o que me deu mais conforto, já que ele poderia me ajudar quando chegássemos em Mumbai. A viagem durou cerca de sete horas e chegamos na maior cidade indiana assim que o sol raiou. Mas, como já muito me alonguei aqui, fica para o próximo depoimento!
Om Shanti Om
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