22 agosto 2006
Agnes - Relato - Parte II
Continuação da postagem da Agnes...
Mas eu superei todos esses problemas com bom humor, paciência e compreensão. Uma das coisas que a Índia me ensinou for ter PACIÊNCIA e aprender aceitar o outro, com todos os seus defeitos e diferenças e passar a ver as qualidades e virtudes.
O que não consegui compreender e que me incomodava de verdade era o olhar dos indianos para mim. Sim, o EFEITO E.T. é, de fato, irritante. Em qualquer lugar da Índia você é visto como um ser de outro planeta. As pessoas não têm pudor algum em te examinar da cabeça aos pés e até mesmo em tocar em você ou pedir para tirar fotos.
Os homens olham com curiosidade. Mas o olhar das mulheres foi o que me deixou mais enlouquecida. Muitas me olhavam com curiosidade e admiração, principalmente por eu ser uma garota, que faz faculdade, trabalha e viajava sozinha pela Índia - de fato, no mundo delas eu era uma E.T. Mas muitas me olhavam não apenas com curiosidade, mas com muita raiva, ódio e desprezo. Se pudessem, arrancariam meu pescoço. Isso me entristecia muito. E não me perguntem o porquê disso. Eu tentei de todas as formas entender mas, confesso que não consegui.
Eu me vestia com roupas indianas pois estava fazendo entrevistas e pesquisas e achei de bom tom respeitar a cultura local. De forma alguma, usava transparências, decotes ou algo que pudesse ofender a moral indiana. Talvez por eu ser fisicamente parecida com uma indiana - sou morena, tenha cabelos longos e traços semelhantes aos indianos, e ao mesmo tempo ter algo diferente, eles percebiam que eu não era de lá. Talvez esse tenha sido o motivo. Enfim, o que posso dizer para os que planejam viajar a Índia é: venham preparados para enfrentar esse olhar. (o EFEITO E.T.)
Se você pensa em viajar para Índia com o propósito de encontrar um país espiritualizado. DESISTA. Os indianos são extremamente individualistas (e capitalista ao extremo). A sociedade de castas diz que se você tem mais dinheiro, você é uma pessoa mais evoluída, tem mais sorte e é mais amado por Deus. Sim, horrível. As pessoas desprezam aqueles que tem um poder aquisitivo menor. Pedintes são, não apenas ignorados, mas desprezados. Uma situação de grande tristeza.
A Índia que conheci foi um país não espiritualizado, mas extremamente ritualístico. O ritual é parte essencial da rotina indiana. A sociedade é marcada por rituais, seja nas relações sociais, no comércio, negociações, na religião. Enfim, em todo o lugar, o ritual tem presença marcante.
Mas a Índia também é cheia de boas surpresas. Fui muito bem recebida em todos os lugares. Brasileiros são muito queridos pelos indianos. Os amigos que fiz lá, levarei para sempre em meu coração. Conheci pessoas incríveis, indianos adoráveis que me apoiaram, me ajudaram com minha pesquisa e não deixaram que, em momento algum, eu me sentisse sozinha. Verdadeiros amigos.
Óbvio que não posso deixar de mencionar a importância que a Sandra teve em minha viagem e em minha vida. A Sandrinha é uma pessoa iluminada que mesmo sem me conhecer, me recebeu em sua casa, me deu apoio, carinho e amizade. Muito do sucesso de minha viagem devo a ela, as informações passadas por ela e o enorme carinho com que ela e seu esposo me receberam!
Uma das coisas que mais gostei na Índia foram as cores desse país.
Como é lindo o colorido das roupas, ornamentos, casas, decoração, monumentos. As cores revelam muito a intensidade da Índia e de sua população.
Apesar de todas essas dificuldades enfrentadas, a Índia me pareceu um país maravilhoso. Sim, pode parecer estranho, mas eu fui muito feliz na Índia. Por duas vezes eu mudei a data de meu vôo de volta ao Brasil e se pudesse teria ficado mais. Aprendi lições que levarei para o resto de minha vida. Vi lugares incríveis, vivi experiências riquíssimas, conheci um outro mundo. Cada segundo na Índia foi uma nova lição em minha vida. Andar nas ruas, observar as pessoas, os hábitos, entender o olhar indiano, tudo é absurdamente gratificante.
Minha pesquisa foi riquíssima. Conheci ONGs que desenvolvem trabalhos importantíssimo para o empoderamento da mulher e para a eliminação da violência contra a mulher. Uma luta árdua e permanente, um trabalho de conscientização que bem aos poucos vai ganhando força.
Muitos podem estar discordando de mim agora. E podem pensar que essa minha paixão pela Índia seja explicada pelo fato de eu ter permanecido apenas por 20 dias no país. Mas eu discordo. Adorei a Índia, com suas virtudes e problemas. Talvez por eu ser jornalista e me interessar pela área social e cultural. Talvez por eu ser uma pessoa que se adapta rapidamente a diferentes situações. Ou por eu ter ido a Índia sem pré-conceitos, por eu ter ido de coração aberto, sem a intenção de mudar algo por lá. Fui determinada a imergir nessa cultura e aprender com ela. Fui sim, determinada a denunciar os problemas e tornar públicas as iniciativas de ONGs que têm provocado algumas pequenas, mas importantes, mudanças sociais.
Sim, leitores do Indi(a)gestão. Eu amei a Índia e tudo o que ela me ensinou. Toda a sua intensidade. O barulho, os cheiros, os sabores, as pessoas, as cores maravilhosas – ah...como amei as cores – e a vida que é tão intensa por lá. Encantei-me por esse país que me recebeu com tanto carinho.
Os problemas existem e não são poucos. A vida na Índia não é fácil. Os desafios são muitos, as diferenças são intensas, há muitas contradições, hipocrisia e falsas moralidades. Mas no meu caso, os bons momentos superaram os dissabores e o saldo de minha viagem foi extremamente positivo.
Já estou planejando meu retorno. Sim, quero mais desse país que me proporcionou os momentos mais incríveis de minha vida!!!
***
Este é o fim do excelente relato da Agnes; uma moça linda, educada, inteligente, generosa e adorável.
Incredible India!
Om Shanti
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